Novo Banco: mexam-se, se faz favor!
Permitam-me que relembre que o local da acumulação de capital, e dos centros de decisão, determina a qualidade e a quantidade do emprego criado. Que recorde como a perda de centros de decisão nacionais na banca, seguros, telecomunicações, energia, infraestruturas várias, cimentos, entre outras, nos levou a uma economia que cresceu à custa da privatização das paisagens e da ocupação do litoral, do alojamento local (em menor escala da hotelaria), ou da agricultura de regadio que exaure os recursos aquíferos.
Relembrar, igualmente, como a quase falência da República Portuguesa, no consulado de José Sócrates, e a chamada da troika credora provocou uma recessão de magnitude que não estava prevista nos manuais de macroeconomia. E não estava prevista porque o credit crunch, ou a redução do rácio empréstimos/depósitos dos bancos a atuar em Portugal, provocou uma rarefação de crédito que asfixiou empresas e destruiu massivamente emprego.
E apesar dos danos terem sido pesados, com um quinto dos portugueses em desemprego e uma emigração massiva de fazer corar, só não foram absolutamente catastróficos porque houve bancos com centro de decisão em Portugal que continuaram a comprar a dívida pública da República: Banco Espírito Santo, Caixa Geral de Depósitos, Millenium bcp, Montepio e Crédito Agrícola. Foram estes que seguraram a República Portuguesa e os grandes grupos económicos portugueses expostos ao exterior ou assentes em concessões rodoviárias altamente alavancadas.
Recordo tudo isto a propósito do futuro Novo Banco, onde o Estado detém, direta e indiretamente, um quarto do capital. Um banco altamente lucrativo, sistémico no mercado das empresas e um concorrente relevante nas poupanças dos particulares.
Imaginem que a Lone Star, ao invés de colocar o banco em bolsa, o vende por negociação particular a um banco concorrente. O que esperar?
Redução da oferta de crédito às PMEs portuguesas. Menor, muito menor, concorrência na captação e remuneração das poupanças dos portugueses. Eliminação de milhares de postos de trabalho no sector financeiro e nas empresas fornecedoras e clientes. Um credit crunch em perspetiva.
A concretização da recessão que o governador do Banco de Portugal, Dr. Mário Centeno, mais ou menos subtilmente, vem alertando. Junte-lhe Donald Trump, as tarifas, a guerra na Europa e o desvio orçamental para a Defesa.
O sector financeiro português precisa de mais concorrência. O país dispensa uma recessão induzida pela destruição de um banco salvo com o dinheiro dos contribuintes. E os contribuintes portugueses merecem ser poupados ao custo de dezenas de milhares de novos desempregados.
Por tudo isto, Dr. Luís Montenegro e Dr. Miranda Sarmento, um conselho amigo: mexam-se, se faz favor!
Presidente do SNQTB