Nova geopolítica: o Potencial dos PALOP e o Clima

Publicado a

Atualmente os poderes geoestratégicos reorganizam-se. Os EUA fecham-se sobre si mesmos, aumentam as tarifas à entrada das importações, deixando de contribuir para o desenvolvimento e cooperação internacional com o “quase” fecho da USAID, saída do Acordo de Paris entre outros. O Reino Unido, com um Governo Trabalhista, reaproxima-se da Europa, tendo reforçado também nos últimos dois anos os seus investimentos na cooperação internacional, nomeadamente em África em áreas como a saúde, educação e alterações climáticas. A China, e independentemente de alguma tensão ao nível das patentes, mantém também um envolvimento significativo de cooperação com a Europa em áreas como comércio, tecnologia, alterações climáticas e proteção ambiental, entre outras. Além do mais, a China tem também aumentado o seu investimento em África, em países como Nigéria, Quénia, África do Sul, Angola, Moçambique, entre outros.

É também importante recordar que o ex-Presidente dos EUA Joe Biden, nas suas últimas atividade antes de passar a pasta ao Presidente Republicano, realizou em Dezembro de 2024 a primeira visita de um Presidente Americano a Angola. Esta visita pretendeu reforçar as relações entre os países em várias áreas, uma delas relativa aos temas das alterações climáticas e ao fortalecimento do apoio a Angola para a sua transição energética. Tendo em conta que Joe Biden sabia das intenções de Trump, conhecidas de todos, em limitar os apoios ao desenvolvimento, esta visita talvez tenha tido um simbolismo mais significativo do que o relatado. Talvez ...

O continente africano tem um imenso potencial. A maioria da população é jovem e com avidez por educação e por aumentar o seu conhecimento; os jovens já com educação são resilientes e pró-ativos. A economia assenta em recursos essências ao século XXI, como a agricultura, minerais, floresta, biodiversidade e os recursos energéticos fósseis e renováveis. Um continente com os recursos essenciais que o mundo necessita: pessoas jovens, terra e recursos endógenos que, em conjunto, podem produzir um valor acrescentado relevante para a economia mundial.

Assim, questiono, mais uma vez, porque não existe ainda uma estratégia de cooperação internacional de Portugal aos PALOP que esteja alinhada com o desenvolvimento económico dos países Africanos, assente na promoção de uma economia verde e resiliente aos impactes das alterações climáticas, onde as inovações desenvolvidas em Portugal possam ser testadas e adaptadas para tornar aqueles países mais produtivos e socialmente mais inclusivos. Inovações como a mobilidade elétrica, painéis solares de auto-consumo, gestão florestal sustentável, drones e sua utilização na medição do sequestro de carbono e assim impulsionar os mercados de carbono socialmente inclusivos, cimento para ecológico, materiais de construção resilientes, etc.

Se Portugal tivesse uma estratégia desta natureza, iria conseguir alavancar muito mais dinheiro e mais parcerias tecnológicas, junto de investidores internacionais, privados e públicos (Bilaterais e Multilaterais). Portugal poderia ficar na linha da frente como sendo aquele país que regenera a sua dinâmica de ligação com as ex-colónias, apostando nas áreas que os países querem dinamizar e que constituem vantagens competitivas para todos.

Uma aposta na transição energética e nas alterações climáticas como aspeto central à cooperação Portuguesa, iria conseguir atrair os investidores e os outros países que, ao contrário dos EUA, querem continuar a investir na cooperação e na cooperação ligada às alterações climáticas e tecnologias de ponta. Em alturas de caos, há que pensar mais longe...

PhD, CEO da Systemic

Diário de Notícias
www.dn.pt