No que pensas quando pensas na Europa?

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Na próxima quinta-feira comemoramos o Dia da Europa. O dia em que o então Ministro dos Negócios Estrangeiros Francês apresentou o seu plano para garantir que uma guerra europeia não voltasse a destruir o continente. E quem conheça um pouco da nossa História coletiva não poderá deixar de se espantar como facto de, durante os últimos 74 anos, não ter havido qualquer guerra entre os Estados da UE.

No que pensamos nós quando pensamos na Europa? Na livre circulação, que nos permite viajar entre as margens do Atlântico e as fronteiras da Rússia sem termos de mostrar um passaporte ou trocar moeda? No roaming, que não pagamos quando ligamos de Iearapetra na Grécia para Nuorgan na Finlândia, os extremos sul e norte da EU? Na possibilidade de vivermos, trabalharmos e estudarmos noutro país da União sem termos de pedir vistos ou autorizações? Nos Direitos, Liberdades e Garantias que temos pelo simples facto de gozarmos da Cidadania Europeia? No apoio ao desenvolvimento que os países mais pobres recebem e que é suportado financeiramente pelos países mais ricos? Nas regras que permitem comprar e vender bens e serviços em La Valeta, Malta como se estivéssemos em Montemor-o-Novo no Alentejo?

A relação de cada um de nós com a União Europeia varia conforme as nossas próprias experiências. A geração que se lembra da guerra e do pós-guerra poderá pensar na paz e na segurança que a Declaração de 9 de Maio prometeu e continua a cumprir. A geração que viveu à sombra do Muro de Berlim e que assistiu ao reencontro da Europa na noite de 9 para 10 de novembro de 1989, quando os alemães se abraçaram pela primeira desde 1945, pensará na liberdade e na democracia que a Europa permite e apoia. A geração que nasceu e que vive sob a ameaça das alterações climáticas saberá que os desafios que enfrentamos são grandes demais para respostas nacionais e só terão soluções se agirmos em conjunto. 
Sabemos que a União Europeia não é um paraíso na Terra e que muito precisa de mudar. Reconhecemos que há ineficiências e burocracias e que a UE muitas vezes exagera nas regras e nas exigências que coloca sobre os países, empresas e pessoas. Temos a noção de que o funcionamento das instituições não é óbvia, nem simples, e que muito se passa sem percebermos o como ou o porquê. Sentimos que há alturas em que o interesse comum dos 27 países e dos 400 milhões de pessoas que partilham os mais de 4 milhões de km2 da União Europeia não coincide com os interesses dos quase 10 milhões de portugueses que vivem nos cerca de 92 mil km2 da ponta ocidental do continente.

Entre o dia 9 de maio e o dia 9 de junho, quando votaremos nas eleições para o Parlamento Europeu, temos um mês certo para discutir a UE. O que queremos e o que rejeitamos? O que nos aflige e o que nos conforta? Que partido ou coligação tem ideias e propostas com que concordamos e quem diz coisas com que discordamos?

O que não precisamos é passar este mês a discutir os assuntos da nossa política doméstica ou, ainda pior, quem disse o quê e a quem. Principalmente porque nos meses que antecederam as últimas eleições legislativas não ouvimos uma única proposta sobre o nosso posicionamento na Europa ou no Mundo. A União Europeia é importante demais para ser ignorada e o Parlamento Europeu é a única instituição onde cada um de nós tem a possibilidade de dizer o que pensa e o que quer. Infelizmente, para discutir o resto já ocupamos os outros 11 meses do ano.

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