Nem todos perdem com a dissociação entre os EUA e a China

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Vimos já como o FMI alertou para a destruição de até 7,4% do PIB mundial se Washington e Pequim cortarem os laços económicos, sendo esses efeitos sentidos principalmente pelas economias em desenvolvimento. Porém, alguns países beneficiam da deslocalização de empresas chinesas para ultrapassar sanções ou evitar tarifas elevadas. É o caso da produção de material fotovoltaico em vários países do Sudeste Asiático. E de novos polos industriais na Malásia para fabricação de semicondutores; o polo de Penang (com tradição na fabricação de microchips), atraiu em 2023 12,5 mil milhões de euros (mM€) de empresas como a Intel (EUA), a xFusion e a Starfive (ambas chinesas).

Cada vez mais, empresas chinesas e ocidentais vêm reorientando os seus investimentos para novos mercados emergentes. No caso de empresas ocidentais, [alguns d]os objetivos são a redução da dependência de um único local de produção (leia-se, China), redução de riscos geopolíticos decorrentes da dissociação entre o Ocidente e a China, mas também para facilitar a penetração de mercados com potencial (ex: Índia e Indonésia).

Por seu lado, muitas empresas chinesas estão a aumentar o investimento em países emergentes. As exportações da China para o Vietname duplicaram desde 2017, ao mesmo tempo que as exportações do Vietname para os EUA triplicaram; as importações do Vietname não levantam problemas alfandegários nos EUA. O mesmo sucede com o comércio externo de e para a Rússia pela porta do cavalo da Ásia Central.

Nestes e noutros casos assistimos a um alongamento das cadeias de abastecimento internacionais, sem alteração da realidade de fundo - grande parte do aumento são exportações indiretas de produtos chineses.

O México - membro da NAFTA, que facilita a entrada no mercado americano de produtos mexicanos sem tarifas - tornou-se o destino favorito para o IDE greenfield chinês em fabricação e logística; uma em cada cinco empresas que se vão instalar nos próximos dois anos nos parques industriais mexicanos será chinesa. Na Europa, o novo destino “amigo” de grandes investimentos chineses é a Hungria; só a CATL, a maior fabricante mundial de baterias, está a construir uma fábrica num investimento de 6,7mM€.

O risco decorrente da dissociação dita que novos investimentos chineses relevantes - sobretudo no armazenamento e na mobilidade elétrica - na Europa serão noutros “países amigos”; talvez em Itália, seguramente em Espanha - que ainda não tomou posição em relação ao equipamento 5G da Huawei, ao contrário de Portugal que, num momento revelador da “inteligência” instalada, desbaratou séculos de boa relação com a China (e vai custar-nos 1000 milhões de custos em equipamento da Huawei que as operadoras de telecomunicações vão ter de substituir).


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