Nasce-se e morre-se muitas vezes
Desengane-se quem pense que apenas se nasce uma vez na vida e que com a morte acontece a mesma coisa. Nascemos e morremos inúmeras vezes ao longo da vida, muitas vezes até no próprio dia. Falo, não do nascimento e da morte tradicionais, mas sim de todas as outras formas de ganhar vida e de a perder.
Nascemos sempre que, à nossa volta, coisas boas acontecem. E não apenas acontecimentos muito importantes, como o nascimento de um filho ou uma conquista significativa. Nascemos quando sentimos o calor do sol na pele, quando vemos a beleza de uma flor, quando lemos uma passagem de um livro ou escutamos uma melodia inspiradora. Nascemos ainda quando presenciamos o bem, a amizade, o altruísmo e a entreajuda. Quando afagamos o pelo macio de um animal ou assistimos ao reencontro e aos abraços das pessoas que se amam.
E da mesma forma que nascemos muitas vezes, também a morte nos assola a torto e a direito ao longo do nosso percurso de vida. A morte associada à saudade, à perda de alguém, à desilusão, à frustração e ao ódio. A morte que nos traz tristeza, angústia, medo, raiva e desesperança.
E porque é importante pensar desta forma, olhando o nascimento e a morte como algo cíclico, que se repete, que continua e que perdura ao longo do tempo?
Porque durante as diversas mortes que sofremos somos levados a acreditar, não raras vezes, que é mesmo o fim. Que atingimos o nosso limite e que não existe mais esperança. Pois é nesses momentos que importa recordar que, após cada morte, seguramente, surgirão novos renascimentos.