Nagorno-Karabakh sob um cerco desumano

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Hoje, as pessoas na Arménia e no Nagorno Karabakh estão a enfrentar desafios sem precedentes que continuam a ameaçar a estabilidade e a segurança da região do sul do Cáucaso. Todos eles foram perfeitamente resumidos nos recentes apelos feitos por líderes e parlamentos mundiais pedindo a libertação dos prisioneiros de guerra arménios e civis detidos no Azerbaijão e o levantamento do bloqueio do corredor Lachin. Essas vozes fortes foram ouvidas na Arménia e no Nagorno-Karabakh. Espero que tenham sido ouvidas e atendidas também no Azerbaijão.

Neste contexto, as mensagens direcionadas da comunidade internacional, incluindo a comunicação social, são cruciais. Apesar dos esforços da Arménia, o ambiente de segurança na região continua tenso e frágil, e a probabilidade de uma nova escalada é substancial. Os desafios de segurança resultantes da guerra de 2020 desencadeada pelo Azerbaijão contra o Nagorno-Karabakh, a subsequente agressão do Azerbaijão e a ocupação do território soberano da Arménia em 2021 e 2022 não só prejudicam os nossos esforços para estabelecer a paz e a estabilidade no sul do Cáucaso, mas também ameaçam a nossa democracia.

Nos últimos dois anos, o governo arménio tem seguido a agenda de paz e, tendo a vontade política de normalizar as relações com o Azerbaijão, tem-se envolvido de boa-fé nas negociações. Em resposta, o Azerbaijão levantou novas reivindicações territoriais e tentou justificar a sua última agressão com um falso argumento de que a fronteira com a Arménia não está delimitada. Hoje, o Azerbaijão usa todos os instrumentos possíveis de pressão: da manutenção ilegal de prisioneiros de guerra e civis arménios como reféns até à disseminação do discurso de ódio contra os arménios patrocinada pelo Estado, desde a retórica belicista até ao uso concreto da força. Também está claro que, até agora, as ações do Azerbaijão provaram mais uma vez a necessidade absoluta do envolvimento internacional para tratar dos direitos e questões de segurança do povo do Nagorno-Karabakh.

Neste exato momento, 120 mil pessoas no Nagorno-Karabakh permanecem sob cerco desumano por causa do bloqueio ilegal do corredor Lachin - a tábua de salvação, a única estrada que liga o Nagorno-Karabakh à Arménia. Ao criar condições de vida insuportáveis, o Azerbaijão visa coagir o povo do Nagorno-Karabakh a deixar os seus lares ancestrais e a sua terra natal. A recente declaração do presidente do Azerbaijão sugerindo a deportação dos arménios que não quiserem tornar-se cidadãos do Azerbaijão vem provar mais uma vez a sua intenção de limpeza étnica.

Como a crise humanitária no Nagorno-Karabakh está a piorar a cada dia que passa, a intervenção imediata da comunidade internacional é necessária para garantir o livre acesso humanitário ao Nagorno-Karabakh para os órgãos relevantes da ONU. Não podemos ficar parados a assistir como as pessoas morrem lentamente de fome por causa de jogos políticos e talvez considerações geopolíticas. Uma intervenção decisiva, pressão intensa sobre o Azerbaijão e ações tangíveis são necessárias com urgência. Deve ser explicado ao Azerbaijão que existem certas regras internacionais que todos devem cumprir.

Hoje, a Arménia pede a implementação de mecanismos internacionais relevantes para interromper o bloqueio ilegal e prevenir a limpeza étnica na região e destaca a importância de enviar uma missão internacional para apuramento de factos para o corredor Lachin e o Nagorno-Karabakh.

Neste contexto, sublinhamos o importante papel da Missão de Vigilância da UE na Arménia, garantindo a estabilidade nas fronteiras do país.

Só existe uma maneira de resolver todos os problemas - negociações pacíficas. A comunidade internacional, em particular a União Europeia, Portugal e os restantes parceiros da Arménia, têm um papel a desempenhar. Anunciamos repetidamente a nossa prontidão para um diálogo construtivo num ambiente livre de discursos de ódio, pré-condições e retórica belicista para uma paz e um desenvolvimento sustentáveis no sul do Cáucaso. Acreditamos firmemente que a solução pacífica das questões e contradições existentes não tem alternativa.


Embaixador da República da Arménia em Portugal

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