Na defesa da “confiança pública”
A história de um jornal, que no primeiro número assumiu que “não faz senão uma promessa e é que buscará corresponder à confiança pública”, em quase 160 anos passou, em vários momentos críticos, pela luta e resistência da sua redação - e este último ano foi o mais desafiante em democracia para o Diário de Notícias.
Esta direção interina, que hoje cessa funções, perseguiu os valores da fundação deste jornal - o de bem servir os leitores e o de trazer confiança em relação ao futuro do DN -, mas nunca, em momento algum, o fez sem a força e resistência desta redação, que, determinada, nos permitiu ir para as bancas e marcar a atualidade online todos os dias (o meu obrigado mais profundo a todos).
Neste ano esperámos e continuamos a esperar que os media em Portugal prossigam resilientes e independentes e que o governo não desconsidere nem desvalorize a comunicação social como um dos pilares da democracia. Isso exige mais do que sinais, exige um diálogo urgente que procure encontrar soluções para ultrapassar a profunda crise que os media enfrentam, assumindo que só existirá confiança na defesa do jornalismo se não se esquecerem das direções dos órgãos de comunicação social (OCS), dos representantes dos jornalistas, repórteres de imagem e gráficos, e da academia, que forma profissionais e tem docentes e investigadores dedicados aos temas do financiamento dos media. Foi pelo menos esta a promessa do ministro dos Assuntos Parlamentares para traçar o plano de ação de apoio aos media, que ainda não tem data de apresentação. Pedro Duarte, no entanto, já adiantou que não defende a gratuitidade do serviço da Lusa, prefere uma redução de custos para os OCS - é o que se sabe, para já.
Um jornalismo livre e rentável depende da “confiança pública” nos nossos OCS, depende da perceção de valor que os portugueses têm do jornalismo que fazemos e que os faz pagar por este serviço à democracia. É fundamental por isso considerar que a necessidade de informação é central na busca por resultados positivos no financiamento dos media.
O DN procurou ser sempre incontornável no jornalismo de imprensa e online. Para garantir o seu futuro - defendo e gostaria de um dia ver acontecer e até de participar neste processo - tem um arquivo com 160 anos e mais de um milhão de páginas de jornal, que deverão ser disponibilizadas aos nossos leitores online, um dia, para melhor informar e mostrar também a relevância do jornalismo na construção da memória coletiva. O DN tem conteúdo para monetizar, mas carece, no entanto, de investimento - nomeadamente em ferramentas de inteligência artificial que o coloquem na vanguarda digital.
Sem inovação não haverá futuro para o jornalismo. É fundamental, por isso, apoiar-se a inovação e a formação de novas competências nos media neste país.
É num momento de expectativa, mas também de grande esperança, que saúdo a nova direção do DN, que a partir de hoje entra em funções. Agradeço profundamente aos leitores pela confiança e deixo um elogio ao trabalho excecional dos meus colegas de direção, Leonídio Paulo Ferreira e Valentina Marcelino, e, mais uma vez, a uma redação marcada pela abnegação, que fez muito mais do que informar - lutou sempre por um jornalismo livre e responsável.