'Mundo Português'. Um eco do Portugal distante

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O jornal Mundo Português ocupa um lugar muito especial no panorama da imprensa nacional, mesmo tratando-se de uma publicação essencialmente dirigida às comunidades portuguesas. Ao longo de 51 anos, o jornal foi sempre uma voz audível dos portugueses residentes no estrangeiro, um seu aliado e um retrato da nossa emigração em todas as suas dimensões.

A emigração sempre foi em Portugal um tema relativamente difícil e incompreendido e mais ainda o era no tempo da ditadura, que a reprimiu e estigmatizou, receando que aqueles que partiam regressassem com ideias subversivas.

E precisamente quando era do interesse do regime ocultar a emigração e os seus efeitos desestabilizadores na sociedade surge O Emigrante, uma iniciativa ousada do industrial gráfico Valentim Morais e do bem conhecido Padre Víctor Milícias, em 12 de janeiro de 1970, quatro anos antes do 25 de Abril. Merece igualmente referência o seu empenhado continuador, Carlos Morais, precocemente arrancado à vida em 2018, num acidente de automóvel, a que certamente não será alheio agora o fim abrupto do jornal.

O jornal foi-se adaptando à mudança trazida pelos tempos, como se evidencia pela alteração no nome, que passou depois a Emigrante/Mundo Português e finalmente a Mundo Português, mas mantendo-se sempre fiel ao seu desígnio de ser "um eco do Portugal distante", como afirma o slogan publicado na primeira página desde o início.

Pela sua orientação editorial, o jornal é um extraordinário reservatório de informação e de histórias da nossa vida coletiva além-fronteiras, muitas de sucesso e esperança e outras tantas de esforço e desilusão, onde gerações sucessivas se reviam e eram valorizadas na sua condição, através dos relatos sobre as suas experiências nos países de acolhimento, e que são parte integrante da nossa identidade como povo.

Impresso em Portugal, o jornal era único no seu género, concebido para chegar a associações e consulados em dezenas de países em todos os continentes, dando sempre uma atenção particular à importância da língua e da cultura, certamente por na altura a grande maioria dos filhos de emigrantes revelar dificuldades na aprendizagem do Português devido ao seu desenraizamento. Mas nunca descurou também as notícias sobre os municípios do interior, sobretudo das regiões Norte e centro, como forma de dar aos que viviam no estrangeiro um cheirinho da sua terra, uma oportunidade para matar saudades.

A perseverança e capacidade de resistência do Mundo Português é uma história de sucesso construído com milhares de histórias daqueles que faziam ouvir o eco das suas vidas na pátria distante. É o exemplo vivo que nos mostra um povo que não conhece fronteiras, que parte em sucessivos movimentos de vai-e-vem, que não desiste perante as adversidades e tem uma notável capacidade de adaptação nas mais diferentes geografias, que consegue absorver outras culturas ao mesmo tempo que as transforma, para podermos afirmar com orgulho o nosso universalismo e humanismo.
Nunca serão suficientes as palavras para exprimir a importância que o Mundo Português teve para tantas gerações de portugueses.

Deputado do PS

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