Mulheres que não querem ser mães e homens que não querem ser pais
As crianças são o melhor do mundo". Esta é uma frase feita que muito tem de verdade, é um facto. No entanto, muitas mulheres e homens não querem ter crianças. Não querem ser pais. E têm esse direito. Mas, então, porque são sistematicamente olhados de lado, condenados e recriminados pela sociedade? Teremos nós esse direito?
Muitos homens e mulheres sentem um enorme desejo de ser pais e investem num projeto de parentalidade que os realize e preencha. Estes pais são acarinhados pela sociedade, que entende a sua vontade e se identifica com a mesma, legitimando (e bem) as diversas formas como este projeto pode vir a concretizar-se.
Outros não sentem esta vontade e decidem, em consciência, não ter filhos. Sentem-se realizados de muitas outras formas e aquele é um projeto que não faz sentido para eles. Mas, ao contrário dos anteriores, não se sentem aceites e compreendidos pelos demais. Ouvem críticas, comentários depreciativos e são, muitas vezes, compelidos a guardar para si mesmos esta sua forma de pensar e sentir. Ao mesmo tempo, e à medida que o tempo vai passando, sobretudo as mulheres sentem a pressão social que recorda a cada momento o tic-tac do relógio biológico e os riscos de uma parentalidade mais tardia.
Não raramente, estas pessoas experienciam um conflito interno - fazer aquilo que faz sentido para si e que é coerente com o que desejam versus ceder à pressão social, que dita as regras de "estudar, casar e ter filhos". Uma pressão por vezes demasiado esmagadora, que potencia sentimentos de culpa e de estigmatização, levando a que estas pessoas se questionem mesmo em que medida serão diferentes daqueles que as rodeiam.
Ser-se pai ou mãe, na verdadeira aceção da palavra, não implica apenas gerar uma vida e satisfazer as suas necessidades mais básicas. Desejam-se pais sensíveis e responsivos, capazes de reconhecer e satisfazer todas as necessidades da criança. Para tal, é fundamental que exista uma motivação interna para o projeto de parentalidade, e que este não assente apenas na tentativa de corresponder às expectativas da sociedade.
Dito de outra forma, na ausência de uma real motivação e desejo em ser-se pai ou mãe, é, pois, preferível que não se seja, a bem das crianças que iriam crescer num contexto, à partida, desfavorável. E a bem destes adultos, que ver-se-iam presos numa realidade indesejada e não-gratificante.
É fundamental reconhecer que querer, ou não, ser pai ou mãe é um direito que assiste a cada um de nós. Um direito legítimo que importa respeitar. Por isso, acabemos com as críticas destrutivas, a culpabilização e a quase marginalização de quem prefere dizer "não" à maternidade e à paternidade.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal