Mudar a contratação de professores
Não conheço ninguém da minha geração a quem um professor não tenha marcado o percurso de vida de um modo significativo. É, sem sombra de dúvidas, uma profissão que transforma a sociedade e que tem de ser valorizada. Decisiva para a continuação dos bons resultados da escola pública no reforço das qualificações e combate ao abandono escolar. Penso que a proposta do governo de alteração do processo de colocação de professores dá passos na direção certa.
Atribuir maior autonomia às escolas na contratação de professores, permitindo-lhes organizar concursos próprios face às suas necessidades específicas e escolhendo o professor com o perfil mais adequado representa quase uma revolução coperniciana no setor.
A ideia de que só Concursos Nacionais fortemente centralizados são justos e adequados para a seleção de professores, como defende a Fenprof, representa a confissão de que, na verdade, não se confia na qualidade (e honestidade) dos agentes educativos para fazer essa seleção.
A resistência à proposta agora apresentada até se compreenderia caso o atual modelo de colocação de professores - criado para dar resposta às grandes necessidades de contratação nos anos 80 e 90 - funcionasse bem. Só que os mesmos problemas repetem-se há já demasiados anos.
A partir da aprendizagem de experiências anteriores, propõe-se agora que as escolas contratem diretamente parte dos professores através de concursos locais, respondendo a um legítimo anseio das comunidades educativas, e permitindo a adequação do perfil dos docentes ao projeto educativo de cada escola.
É bom para as escolas, que conseguem preencher as lacunas do quadro profissional de forma mais flexível e ágil. É bom para os professores, que têm a oportunidade de se integrarem em comunidades educativas que melhor compreendem e por isso melhor e mais rapidamente poderão servir de modo eficaz.
Do mesmo passo, discute-se a estabilização dos vínculos dos professores, face às necessidades reais dos agrupamentos, e a sua aproximação às zonas de residência.
Seria, para muitos, o princípio do fim da inexplicável realidade que consiste em termos em Portugal milhares de professores que andam anos e anos com a "casa às costas" até conseguirem um vínculo estável.
Talvez o princípio do fim desta realidade em que demasiados jovens com vocação para o ensino procuram outra carreira, por desmotivação e instabilidade permanente nas suas vidas pessoais.
É bom para os alunos - e respetivas famílias - que verão reduzidas as situações em que iniciam o ano escolar sem terem professores para algumas disciplinas.
As difíceis negociações sobre a matéria exigirão uma grande responsabilidade e espírito de compromisso de todas as partes. É, afinal, esse o modelo que queremos ensinar aos alunos. Esta será uma boa oportunidade para ensinar pelo exemplo.
Estrutural e ambiciosa, esta medida não resolverá tudo. Continuaremos a ter outros desafios sérios que precisam de resposta. A escola pública ainda precisa de se integrar mais com a comunidade que a rodeia e as famílias dos alunos. Para que o caminho dos últimos anos continue, a bem dos alunos e do futuro do país.
Foi uma semana clarificadora da posição política do líder do PSD. A sua tentativa de garantir a eleição de um deputado do Chega para vice-presidente da Assembleia da República não só falhou redondamente, como foi fortemente criticada por todos. André Ventura foi o único que não ficou perplexo.
Eurodeputado