Morreu um Grande Herói da Solidariedade
Como membro do Conselho de Curadores da Fundação Manuel António da Mota, conheci a Academia do Johnson, no Bairro do Zambujal, junto à Cova da Moura, e fiquei muito impressionada e sensibilizada com o trabalho que estão a dinamizar com toda a comunidade, incluindo o acompanhamento de centenas de crianças e jovens oriundos de meios sociais e económicos desfavorecidos e suas famílias, assim como com actividades com pessoas mais velhas que tinham ali um ponto de encontro e de apoio.
Aliás, houve uma empatia imediata porque também tínhamos trabalhado com o Johnson no Instituto de Apoio à Criança, no Projecto das Crianças de Rua.
A Academia presta apoio escolar, pedagógico e educativo diários, organiza actividades extracurriculares de futsal, teatro, música e dança; dispõe de uma oficina de mentores; e apoia a reinserção de jovens reclusos, trabalhando em rede e com os serviços da comunidade.
Projectos semelhantes deveriam existir em todos os bairros, maioritariamente com pessoas carenciadas, para evitar situações de pobreza e prevenir, sobretudo com os jovens, problemas de marginalidade e delinquência.
Nascido em São Tomé e Príncipe, em 1972, e criado no Bairro da Cova da Moura, Johnson Semedo, com um percurso de vida muito duro, meteu mãos à obra e decidiu usar a sua experiência para trabalhar na prevenção de situações de risco de crianças e jovens, promovendo a educação e os valores da cidadania.
Apesar de um passado com problemas complicados, Johnson é o exemplo de dedicação dinâmica à sua comunidade, com todo este apoio na área da solidariedade, dando-lhe um horizonte de esperança e dignidade. Com a sua alegria contagiante e irradiante personalidade, Johnson era um homem de causas, um lutador como poucos, e uma figura incontornável de um Portugal mais justo, mais fraterno e mais solidário.
Ainda ontem falei com ele para lhe dar duas boas notícias:
- A Ministra da Solidariedade, Ana Mendes Godinho, muito sensível a este trabalho solidário e de prevenção, iria à Academia no dia 5 para assinarem um protocolo de cooperação, já que não tinham nenhum apoio estatal (só duas instituições privadas); e
- Também o Dr. Rui Pedroto, presidente executivo da Fundação Manuel António da Mota, combinou comigo vir a Lisboa com a Eng.ª Inês Mota para ser assinado um apoio regular de cooperação.
Não posso deixar de lembrar uma crónica belíssima e comovente do Luís Osório (no Postal do Dia na TSF), em que falou do trabalho da Academia do Johnson.
Uma das voluntárias na Academia, Constança Figueiredo, muito realizada com o seu trabalho de apoio, recorda a frase muitas vezes repetida pelo Johnson: "Não estamos aqui para mudar o mundo, mas, sim, para o tornar num mundo menos mau". A realidade é que ele nos deixou um mundo melhor.
Como diz Bento XVI - que gosto muito de citar -, "fazei das vossas vidas lugares de beleza, mas sobretudo, lugares de beleza, de paz e de solidariedade".
Membro do Conselho de Curadores da Fundação Manuel António da Mota.
Escreve segundo a antiga ortografia