Morreu um assassino… sem pena!

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Em quase todos os comentários que li sobre a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, notei que quem os escreveu teve muito medo de não valorizar a sua intervenção na revolução do 25 de Abril.

Em jeito de politicamente correto, houve muito poucos comentadores a referir com verdade aquilo que foi a participação de Otelo na vida política do país.

A maioria dos portugueses não têm qualquer dúvida de que o regime em que vivíamos antes da revolução de 1974 não tinha qualquer hipótese de sobreviver. Teríamos sempre de acabar por mudar, fosse no 25 de Abril fosse numa outra data qualquer.

Mas aquilo em que a maioria dos portugueses também acreditam é que apenas um sistema democrático poderia ser a alternativa em Portugal. Este era o único caminho para a convergência com o resto da Europa Ocidental e que nos levaria, pouco mais de uma década depois, a aderir à Comunidade Europeia.

Não era esse o entendimento de Otelo. Para ele, a solução de regime a introduzir em Portugal seria um regime ditatorial, provavelmente mais agressivo e letal do que aquele em que vivíamos e em que a censura não se faria pela eliminação dos conteúdos nos jornais, mas sim pelo assassínio daqueles que tinham opiniões diferentes sobre os temas que ele e os seus amigos - nunca eleitos - tinham sobre os mesmos assuntos.

Otelo foi efetivamente um operacional de uma revolução que nos trouxe a democracia, mas tão-só porque não lhe foi permitido instituir a forma de governo que ele ambicionava para o nosso país.

Ele próprio o disse em diferentes momentos da sua vida, que tinha proposto colocar os contrarrevolucionários no Campo Pequeno e matá-los a todos.

Criou uma polícia política que em nada fica atrás dos abusos que ele próprio criticava à PIDE, felizmente com muito menor eficiência e competência, o que não lhe permitiu conseguir os seus objetivos.

Frustrado com a derrota em 25 de novembro e por uma adesão popular a teorias democráticas que não lhe agradavam e que não acreditava que pudessem ser a vontade do povo, candidatou-se a Presidente da República, nas palavras do próprio, para ver o que valiam as suas ideias.

Como o resultado foi negativo, não teve qualquer dúvida de que este povo estava perdido e seria obrigado a viver em democracia, pelo que decidiu tornar-se o grande responsável pela purificação da sociedade portuguesa através da eliminação de quantos achava que não tinham direito a manifestar a sua opinião e nem sequer a cumprir as suas funções - ainda que essas lhes tenham sido atribuídas pelas instituições democráticas.

Foi julgado e condenado e depois amnistiado por quem com ele partilhava certos ideais, ou que, porque lhe tinha reconhecido erradamente os seus méritos na instituição da democracia portuguesa, teve vergonha de mostrar ao mundo a verdadeira essência desta personalidade.

Mais uma vez, Portugal verga perante os grandes e poderosos, permitindo que assassinos não cumpram a pena que merecem pelas suas ações.

Vemos isto constantemente nos políticos que não são responsabilizados pelas suas decisões, nos empresários que abusam do seu poder prejudicando aqueles que deveriam ajudar, os juízes que nunca são medidos pelas suas decisões; enfim, todos aqueles que têm o poder e que o utilizam em seu próprio proveito.

Morreu um homem que tentou impor a Portugal uma ditadura, responsável pela morte de vários cidadãos portugueses que apenas cumpriam as suas obrigações, e tudo isto porque achava que tinha um saber maior do que todos os outros, o que lhe conferia o poder de deixar viver ou fazer morrer.

Morreu um potencial ditador que se tornou assassino, a quem os grandes deste país perdoaram a pena.

É preciso que aqueles que contam a história de Portugal e aqueles que são a voz pública do nosso país parem de nos falar do politicamente correto e nos contem a verdade sobre o que realmente se passou.

Morreu um assassino que não cumpriu a sua pena.

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