Montenegro até pode rasgar a pele do corpo

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Nota prévia: não votei na AD e muito dificilmente o farei, nem conheço Luís Montenegro ou algum membro da sua família, e é muito pouco provável que tal venha a acontecer.

Quisesse o Parlamento, de facto, esclarecer a realidade da situação da empresa da família de Luís Montenegro - nomeadamente os pontos fundamentais: houve algum pagamento sem qualquer contrapartida demonstrável? quem (que pessoa) forneceu os serviços? Os dividendos não foram, de facto, distribuídos pelos sócios? (e, nesse caso, a pessoa do primeiro-ministro não recebeu qualquer valor, tendo ficado tudo no património da empresa) - pedia uma auditoria rápida à Spinumviva, e logo se via. Mas, obviamente, isso não interessa a nenhum partido da oposição. Perdia-se dessa forma a oportunidade de fazer política à portuguesa. Má política, portanto.

É de tal forma evidente que (quase) ninguém se interessa por raciocinar sobre a realidade dos factos vs. os formalismos dos mesmos que - como o socialista Sérgio Sousa Pinto argumentou há dias na CNN - tivesse a atividade do primeiro-ministro sido feita sob o sigilo de uma sociedade de advogados, e tudo era considerado absolutamente normal. Assim, o PM vê-se obrigado “a um verdadeiro striptease”, comentou, com razão.

Um strip à vida pessoal e profissional que, está-se mesmo a ver, nunca será suficiente para satisfazer quem lhe exige a cabeça - nem que emulasse o videoclip de Robbie Williams (Rock DJ) em que, para gáudio da audiência, o performer tira primeiro a roupa, depois a pele, de seguida até os músculos, ficando apenas o esqueleto à vista.

Certo é que temos hoje um líder de Governo que, com experiência empresarial, criou o seu próprio emprego, deu trabalho a outros e gerou as condições para que a mulher e os filhos tivessem, pelo menos, uma base de sustentabilidade no setor privado. Pequeno problema: nada disto é particularmente bem visto em Portugal, onde cada empresário é olhado com desconfiança, as empresas com lucro são vistas como obtendo algo ilícito e o Estado pretende ser bitola para toda a atividade humana (e animal).

Concluímos assim, a partir do exemplo de Montenegro, que nenhum empresário deste país poderá alguma vez ser ou vir a ser primeiro-ministro (e, já agora, o melhor mesmo é nem ser governante...). É só chatices e incompatibilidades. A não ser que seja advogado - que aí já pode ter todas as relações do mundo, mas é ilegal saber-se...

Também já houve quem defendesse que o melhor mesmo seria que as pessoas com altas ambições políticas escolhessem carreiras universitárias. Sim, porque o know how adquirido no dia a dia de quem produz riqueza e mais-valia não é necessário para governar... Aliás, a História recente de Portugal (com crescimentos anémicos nos últimos 20 e tal anos) são bem prova disso mesmo!

E assim nos entretemos, enquanto o mundo se transforma à nossa volta, com uma Europa cada vez mais irrelevante.

Editor do Diário de Notícias

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