Um recente inquérito promovido pelo parlamento europeu sobre quais são as preocupações dos jovens - o Flash Eurobarometer Youth Survey - mostra que os cidadãos portugueses entre os 16 e os 30 anos são, entre os 27 Estados membros, os que revelam a taxa mais baixa de respostas afirmativas quando questionados sobre se a "Democracia e o Estado de Direito" vão ser prioridades para a União Europeia (UE) para os próximos cinco anos. Apenas 10%, contra 17% da média europeia. Aliás, a Democracia e o Estado de Direito estão mesmo no fundo da tabela nas preocupações da juventude do velho continente. As três primeiras preocupações são o custo de vida, as alterações climáticas e a situação económica/criação de emprego. Em Portugal, esta faixa etária considera como preocupação primordial para o próximo quinquénio a habitação, seguida do custo de vida e da situação económica / criação de emprego. Mas é o resultado com a Democracia e o Estado de Direito que mais surpreende. E preocupa. Todos sabemos que hoje o sistema democrático, os direitos fundamentais, estão ameaçados. A nova ordem mundial que se afigura obriga a um esforço acrescido de proteção das democracias que, com muitos defeitos ainda, transformaram o mundo, defendem e trouxeram esperança às pessoas. Com todas as suas falhas, a democracia representativa continua a ser o pior sistema político se excluirmos todos os outros. De todos os cidadãos, os políticos e os titulares de cargos públicos têm esse dever ainda mais vincado. Devem ser vistos como exemplo de servidores públicos. Luís Montenegro advogado, Luís Montenegro líder parlamentar, Luís Montenegro presidente do PSD e agora Luís Montenegro primeiro-ministro não têm as mesmas responsabilidades para com a Democracia. Montenegro chefe de Governo tem a mais elevada responsabilidade. Deve pensar nestes jovens e que o seu legado seja uma referência. Como noticiamos nesta edição, o Código de Conduta do executivo implica que possa ser pedido um parecer sobre conflitos de interesses, o que poderia evitar a sua fragilização política. Até agora nada disse sobre isso, o que leva a concluir que não o fez. Portugal, tal como a restante UE está perante desafios enormes. A credibilidade e força de quem nos representa deve ser à prova de bala. Neste contexto de crescente desconfiança para com a democracia e as suas instituições, um primeiro-ministro deve procurar estar acima de qualquer suspeita. Não existem indícios de que Luís Montenegro tenha cometido qualquer ilegalidade, mas este caso não contribuiu para o reforço da confiança nas instituições democráticas. E embora Luís Montenegro tenha prestado esclarecimentos sobre a empresa familiar, os seus clientes e os serviços que presta - e como o faz --, não deixa de ser um primeiro-ministro mais frágil do ponto de vista político, numa altura em que Portugal precisa de um Governo eficaz e com capacidade de ação. Veremos se, nos próximos meses, o Executivo será capaz de recuperar a iniciativa com medidas que façam a diferença para as pessoas.Há dias, o meu camarada da direção Nuno Vinha ensinou-me uma forma de avaliar estes casos. “Nem coração, nem razão. É o estômago o que melhor avalia”, disse. Fiz o teste. Racionalmente, entramos numa discussão jurídica sem fim. Emoções são irrelevantes aqui. É o estômago que decide: ou não reage, ou dá uma volta e perturba-nos. Nesta última hipóteses sabemos o que está certo e errado para a nossa consciência.2 - Do bairro da Belavista em Setúbal chegaram boas notícias pela pena da Amanda Lima. Uma “revolução social” transformou e fez evoluir aquele espaço que há 15 anos estava a ferro e fogo, como criminalidade, distúrbios, ataques à polícia. O senso de comunidade entrou no dia a dia dos residentes: autarquia, polícia, moradores juntaram-se e fintaram o destino. Melhor habitação, policiamento de proximidade, os residentes a participar nas decisões sobre o seu bairro. Um exemplo a seguir por tantos outros bairros na área metropolitana da Lisboa. O primeiro passo é mesmo deixar de pensar que só a polícia, mais polícia, é a solução.