Mediação versus mediatização: A eutanásia nos média

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A discussão da eutanásia continua a ser um tema de destaque em Portugal, podendo influenciar não só a esfera política e legislativa, mas também a sociedade em geral. Nos últimos anos, assistimos a avanços e recuos neste debate, culminando na aprovação da lei em maio de 2023. Contudo, deste marco histórico continua a faltar regulamentação para que a mesma possa ser aplicada e continuamos sem saber o que fará o novo Governo. A par desta lacuna, tem estado longe da discussão o papel que os órgãos de comunicação social desempenham neste assunto.

Na área científica das Ciências da Comunicação, "mediação" e "mediatização" são duas perspetivas centrais e complementares que permitem analisar e compreender a função e a influência dos média na sociedade. A mediação refere-se a um processo bidirecional que reflete a dinâmica multifacetada dos fluxos mediáticos: produção, distribuição, interpretação ou receção, e recirculação das interpretações de volta à produção ou à vida social e cultural. Esta lente reconhece que os meios de comunicação atuam como intermediários na comunicação, filtrando, selecionando e interpretando informações antes de as entregar aos públicos. Embora não faça parte dos pressupostos iniciais, os conteúdos jornalísticos podem moldar a perceção da realidade, influenciar atitudes e comportamentos, e contribuir para a construção de identidades individuais e coletivas.

Já a mediatização descreve a mudança social como outra transformação abrangente mais ampla da vida social e cultural. Defende-se que a sociedade (mediada) é cada vez mais saturada e moldada pelas estruturas e lógicas dos órgãos de comunicação social. Nesta ótica, os média não transmitem apenas informações, como desempenham um papel fundamental na estruturação das instituições sociais, da política, da cultura e da vida quotidiana. O foco é, assim, como os meios de comunicação afetam as interações sociais, as relações de poder, a organização política e a construção de identidades.

Dado o papel central dos média na partilha de pontos de vista em relação ao mundo, na divulgação de informação e na promoção de debates, a eutanásia ainda não foi discutida e muito menos analisada a partir da sua cobertura jornalística. A intensidade com que

os meios de comunicação portugueses abordam a eutanásia não assegura uma abrangência de perspetivas e factos, sendo necessário perceber se o equilíbrio é assegurado, bem como se influencia significativamente a forma como o público perceciona a prática. Além de ser crucial analisar estes aspetos, é igualmente importante perceber os desafios enfrentados pelos jornalistas nesta matéria para melhorar o serviço público e restaurar a confiança dos públicos nos média.

Neste contexto, a organização de uma mesa-redonda subordinada ao tema "A eutanásia nos media: Perspetivas, desafios e novos caminhos" surge como uma oportunidade crucial para aprofundar esta discussão. O evento, que terá lugar no Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, abordará diversos tópicos relacionados com a cobertura jornalística da eutanásia, incluindo a evolução da cobertura ao longo do tempo, os desafios enfrentados pelos jornalistas, os possíveis impactos na perceção pública e comunidade médica, entre outros. As oradoras e os oradores confirmados são:

· Carolina Reis: Jornalista na SIC e vencedora de vários prémios de jornalismo;

· Rui Nunes: Professor Catedrático na FMUPorto e Presidente da Associação Portuguesa de Bioética;

· Carlos Andrade Costa: Presidente do Conselho de Administração nas ULS Estuário do Tejo e Professor nas Universidades Europeia e Católica Portuguesa;

· Isabel Moreira: Deputada do Partido Socialista e Advogada condecorada com a medalha de ouro da Ordem dos Advogados;

· Padre Jerónimo Trigo: Vice-diretor do Colégio Universitário Pio XII e Professor Aposentado da Universidade Católica Portuguesa;

· Alexandre Cotovio Martins: Investigador das questões de fim de vida no CARE e Professor na ESEC-Instituto Politécnico de Portalegre.

· Gustavo Cardoso: Professor Catedrático e Diretor do Doutoramento em Ciências da Comunicação no Iscte.

A iniciativa está enquadrada no âmbito do projeto Aversion2agony, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que tem como objetivo analisar e comparar a cobertura jornalística da eutanásia em Portugal e no Reino Unido, explorar as perceções dos públicos sobre a morte e a eutanásia, e identificar novas abordagens informativas sobre estas temáticas.

Convido todos os interessados a participarem nesta mesa-redonda, contribuindo para um debate informado e construtivo sobre o papel dos média na mediação e/ou mediatização da eutanásia em Portugal. A entrada é livre e gratuita, e contamos com a presença de todos para enriquecer esta importante discussão.

DATA E LOCAL DO EVENTO:
Data: 6 de maio de 2024
Horário: 15h - 18h
Local: Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, Edifício 1 – Sedas Nunes, Auditório J.J. Laginha

Entrada livre e gratuita

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