Manter viva a promessa da Europa
No início de maio de cada ano, a Europa celebra a vitória sobre a tirania e festeja a construção de uma união baseada na paz. No dia 8, lembramos a capitulação das forças alemãs em 1945, que simboliza o triunfo da liberdade sobre a ditadura, honrando milhões de vidas perdidas nos campos de batalha e nos campos de concentração. E no dia 9, comemoramos o discurso de Robert Schuman em 1950, que lançou a ideia de uma Europa unida, assente na dignidade humana, na democracia, nos direitos humanos e no Estado de Direito. Esta visão ousada transformou antigos adversários em parceiros próximos, promovendo a reconciliação, a estabilidade e a construção de pontes de entendimento que ajudaram a prevenir novos conflitos.
Hoje, no entanto, os valores que sustentam esta nossa Europa estão sob ataque. O ressurgimento de movimentos populistas e de extrema-direita promovem uma narrativa simplista e inflamada e misturam a nostalgia nacionalista com a desconfiança em relação às instituições democráticas, à diversidade e às organizações internacionais. Estes movimentos que tentam minar as estruturas que garantem a paz e a cooperação, representam uma ameaça direta aos princípios que nos definem, ao mesmo tempo que corroem os alicerces da integração europeia.
Externamente, a guerra na Ucrânia desafia os princípios do direito internacional e testa a determinação da União Europeia em defender os seus valores fundamentais, lembrando que a paz não é uma certeza, mas uma escolha constante. Ao mesmo tempo, a fragilidade estrutural da parceria transatlântica, combinada com pressões económicas, tensões sociais e uma crescente competição geopolítica, colocam a Europa numa encruzilhada crítica, exigindo uma resposta firme e coordenada que nos obriga a repensar o nosso papel coletivo na diplomacia, na defesa e na segurança.
Internamente, a União Europeia enfrenta também desafios profundos que não podem ser ignorados. A crescente dificuldade em responder às aflições das suas populações, acelerada pela revolução digitalização, pela transição energética e pela necessidade de garantir competitividade económica num mercado global, minam a credibilidade das nossas democracias e exigem reformas corajosas. Encontrar respostas sensatas e moderadas para estes desafios, promover uma maior autonomia estratégica e construir uma economia sustentável e inclusiva são cruciais para garantir a relevância da União no século XXI.
Num mundo cada vez mais fragmentado e incerto, o exemplo da União Europeia, nascida do caos da guerra e moldada pela esperança de paz, permanece uma poderosa fonte de inspiração. O Dia da Vitória e o Dia da Europa são mais do que simples recordações históricas. São um apelo constante à união, à solidariedade e à coragem de imaginar um futuro melhor, baseado nos mesmos objetivos que guiaram a reconstrução europeia do pós-guerra. Mas para que esta esperança se mantenha viva, a Europa deve estar preparada para defender os seus princípios com determinação e coragem, tal como fez há 80 anos.
Professor Convidado IEP/UCP e NSL/UNL