Mais competências digitais para um país mais competitivo

Em tempos de mudança e transformação digital, a novidade e a perspetiva de um mundo melhor alimenta a expectativa de muitos, mas se queremos verdadeiramente tirar partido dos tempos que vivemos, há-que encarar os problemas de frente e procurar resolvê-los no presente.

Atualmente, muitas organizações e setores de atividade reconhecem a dificuldade que existe para contratar pessoas. Umas vezes porque a concorrência (em alguns casos, internacional) leva a melhor, outras porque os perfis disponíveis não têm as competências necessárias, para abraçar de imediato os desafios que as organizações têm para oferecer.

Se olharmos em concreto para o setor das Tecnologias de Informação, que alimenta em boa parte este ambiente entusiasmante de mudança e transformação que vivemos, o problema da escassez de talento é por demais evidente. Para se ter uma noção concreta da situação, vamos a números: de acordo com o EUROSTAT, entre 2012 e 2021, o número de profissionais na UE cresceu 50%, chegando a cerca de 9 milhões; mas a mesma entidade estima que em 2030 sejam precisos 20 milhões, o que diz bem do nível de necessidades que o setor tem.

Se em nove anos se conseguiram formar cerca de 4,5 milhões de profissionais de IT na região, dificilmente conseguiremos mais do que duplicar esse número num horizonte temporal semelhante, recorrendo à receita dos sistemas de ensino tradicionais, porque estes, isoladamente, não conseguirão dar resposta às necessidades.

Assim se constata que é necessário apostar em modelos complementares de ensino, que permitam a pessoas de outras áreas de conhecimento reconverter as suas carreiras no sentido das tecnologias de informação. Iniciativas que as dotem não só das competências técnicas necessárias, mas também das capacidades éticas e sociais para navegar um futuro de mudança constante e de desafios, como o desenvolvimento ético de tecnologia.

Para dar vida a estas iniciativas de reskilling, mas também de upskilling -- a UE espera que, em 2030, 80% da população tenha competências digitais básicas -- é fundamental que as organizações se unam num esforço conjunto de partilha de capacidades e de investimento. O próprio Plano de Recuperação e Resiliência tem uma parte significativa das verbas destinadas à transição digital (22%), o que pode representar uma importante alavanca para que estas iniciativas se multipliquem num futuro próximo.

Por tudo isto vale a pena destacar uma iniciativa recente, realizada em Portugal, que permitiu a 30 jovens talentos de áreas não tecnológicas, como Direito, Turismo, Geologia, Engenharia Civil e outras, converterem-se em especialistas em programação e tecnologia OutSystems, graças à Academia NTT DATA & Fidelidade. Uma iniciativa desenvolvida em parceria com o Técnico+, a escola de formação avançada, pós-graduada e profissional do Instituto Superior Técnico.

Com a conjugação de esforços de diferentes entidades, como o exemplo que acabámos de dar e com a evolução dos processos de recrutamento das organizações, conseguiremos certamente dar um passo em frente e resolver ou, pelo menos, mitigar a falta de talento existente em Portugal - nas tecnologias de informação e outras. Algo que contribuirá igualmente para oferecer ao talento nacional oportunidades de carreira motivadoras, compensadoras e, no caso das tecnologias de informação, de pleno emprego. Em resumo, se queremos um país mais competitivo, precisamos de mais competências digitais.


André Piolty Esteves, Diretor
na área de seguros da NTT DATA Portugal

Joana Queiroz Ribeiro, Diretora
de Pessoas e Organização
da Fidelidade

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