“Maioria maior” agradará aos mercados

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Os resultados das eleições legislativas consolidaram a europeização de Portugal no âmbito político-partidário. Tal como já acontece na generalidade dos países europeus, o bipartidarismo é coisa do passado, a rejeição aos partidos da esquerda é claríssima, provavelmente devido às suas prioridades políticas, e há uma representação crescente dos partidos que se podem considerar como “fora do sistema”.

A AD reforçou a votação e a representação parlamentar. Nesse sentido, saiu reforçada a sua legitimidade para a implementação do seu programa eleitoral, embora na campanha se tenha falado pouco de economia, de defesa e das opções estratégicas para Portugal. Portanto, pode dar continuidade à ação governativa da legislatura entretanto interrompida, nomeadamente nas opções em termos de economia, fiscalidade e orçamento.

Não obstante a força adicional da coligação do Governo, a AD continua a não ter uma maioria, o que poderá levantar dúvidas quanto à possibilidade de implementar as suas políticas ou mesmo de a legislatura chegar ao fim. Em relação à viabilização de Orçamentos do Estado e de outras medidas mais fraturantes, o Governo deverá ter mais condições de governabilidade, ainda que forçado ao diálogo. O PS foi muito penalizado com a não aprovação da Moção de Confiança e não deverá arriscar novas eleições, por muito que o seu líder cessante continue a defender que Montenegro não deva ser primeiro-ministro. Por outro lado, em termos de legitimidade política, o PSD ocupou o centro, pelo que qualquer moção de rejeição será vista como um movimento radical. Além disso, não é hoje claro quem será o verdadeiro líder da oposição. O Chega, também reforçado, pretenderá ser chamado para uma solução de governo, o que a AD, com o líder atual, deverá tentar continuar a rejeitar. Mas, em política, as coisas mudam depressa.

Este contexto permite antever que haverá, pelo menos numa primeira fase, previsibilidade da política económica e orçamental, o que agradará aos mercados e à entrourage europeia. Os analistas internacionais continuarão mais interessados em outros temas como Trump, Ucrânia, Roménia, entre outros e, como já foi referido, vários países europeus têm atualmente governos apoiados por maiorias frágeis.

A implementação do Plano de Recuperação e Resiliência, tão necessária como atrasada, poderá finalmente ser acelerada, mas a probabilidade de serem implementadas as sempre muito faladas “reformas estruturais” continua a ser baixa. Em termos internacionais, a imagem de um país comprometido com a responsabilidade orçamental deverá manter-se, com os analistas especialmente focados no ritmo de crescimento económico.

Economista conselheiro

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