Lufa-lufa eleitoral
Obviamente, ainda é cedo para se saber qual será a palavra do ano. Para além disso, é quase certo que a palavra “eleições” não chegará ao final do ano no topo das preferências da maioria dos portugueses.
Pese o excesso de uso das palavras praticamente incontornáveis como “candidato”, “presidenciais”, “presidente” ou “autárquicas”, para a grande maioria dos cidadãos nenhum destes tópicos estará na ordem do dia quando chegar a hora de escolher a “palavra rainha”.
Parte deste aparente desinvestimento resultará do sentimento de afastamento que existe entre a “bolha política” e a “sociedade civil”. Por estes dias (semanas e meses), o frenesim que invade as redações e as sedes partidárias, numa fase em que muito brevemente se anunciarão os candidatos/as autárquicos e presidenciais, não passa de uma espécie de chuva miudinha para o comum dos mortais.
Não que o tema ou a atividade política não sejam relevantes para a vida das pessoas, muito pelo contrário. No caso das autárquicas, o autarca, ou seja, o representante do poder local democrático, é o primeiro contacto do cidadão eleitor com o Estado e com os seus eleitos.
Já com respeito ao Presidente da República, esse é de tal forma significativo que a escolha é absolutamente pessoal e suprapartidária. Todavia, tem de ser dito que os apoios dos aparelhos partidários conferem, à partida, conforto e respaldo a qualquer candidatura.
O processo de escolha dos candidatos é outra das particularidades que passa praticamente despercebida. Os partidos passam por enormes dificuldades e peripécias para encontrar os candidatos e candidatas certas para os milhares de autarquias espalhadas por todo o país.
Por vezes, há demasiada “política de terra queimada”, em que “ou estás comigo ou contra mim”. Atualmente, o modelo político que construiu partidos com uma história plural e democrática, isto é, partidos de fação, está ameaçado de se tornar em algo diferente. De fação a facciosos vai uma grande distância.
A praxis em voga é a do entrincheiramento ideológico, onde ninguém deve falar com ninguém, e quando tal acontece poderá ser considerado traição. Sem dúvida, este é o tipo de política e de políticos que devem ser combatidos. Os tacticismos, calculismos ou acertos de contas entre portas não devem ter lugar no seio de partidos históricos e com provas democráticas dadas.
As pessoas querem soluções e esperança, não a crítica fácil e o queixume. Também não almejam a ofensa e a injúria. Querem sim ideias práticas, percetíveis e exequíveis, que é o mesmo que dizer propostas de futuro. E como se tem assistido, cada vez mais se vota em função do que é proposto, mas também em função do que não é.
Concluindo, na maioria dos casos ganha-se por mérito, mas nalguns a vitória dá-se por demérito do adversário. A dificuldade não está necessariamente em conseguir alcançar, mas mais em manter o rumo traçado. Afinal, essa é uma das grandes dificuldades: fazer o bem sem propagar o mal.
Ficam duas certezas: seja pela causa certa ou errada, as pessoas votam sempre bem; as vitórias dos outros têm o mesmo valor do que as nossas, até porque só valorizando os outros é que nos valorizamos a nós próprios.