Living in Portugal
"Living in America" é o título da famosa canção de James Brown, datada de 1985. Foi esse título que inspirou as linhas que se seguem, uma vez que se tem assistido recentemente a uma vaga significativa de emigrantes oriundos dos Estados Unidos da América.
Será do conhecimento geral que o número de expatriados a viver em Portugal aumentou estratosfericamente. Em cerca de 20 anos, de 2002 a 2021, a percentagem subiu mais de 3.000%. Segundo a Pordata, em 2002, viviam em Portugal aproximadamente 20.500 indivíduos estrangeiros. No ano passado essa cifra estava muito próxima dos 700.000.
Apesar do peso face ao todo ser residual (cerca de 7.000 pessoas), o grupo de "expats" originário das Terras do Tio Sam não para de crescer. De acordo com o The Wall Street Journal, na última década o número triplicou.
Num olhar atento e em jeito de reflexão, o que levará tanta gente a vir em catadupa de lá para cá? De uma perspetiva pessoal, o que mais deslumbra nos "States" é exatamente o que os novos "colonos" têm de prescindir por terras Lusas: casas enormes, carros grandes, autoestradas com cinco vias de cada lado, porções de comida desproporcionais, etc.
Os aspetos básicos apontados em cima são os que, à primeira vista, facilitam a perceção das primeiras diferenças entre os dois países. É certo que há muitas mais, como por exemplo a facilidade no recurso ao crédito e, por consequência, uma maior possibilidade de acesso ao consumo, a ideia de que todos podem vir a ser "milionários" se trabalharem arduamente, entre outras.
Assim, e tendo presente que as diferenças a priori seriam mais apelativas de cá para lá, colocam-se mais questões: o que poderá efetivamente levar a uma troca direta? O Sistema Nacional de Saúde Pública? O clima? A segurança?
Quem procura Portugal para aqui (re)começar a vida, regra geral, encontrará: um povo acolhedor e socialmente equilibrado; um modo de vida seguro (dos mais seguros do mundo); um país acessível em termos económicos e politicamente estável; uma gastronomia saudável e original; um clima temperado e que se mantém relativamente estável durante todo o ano.
Daí que estas novas comunidades aqui se fixem e abdiquem das casas ou dos carros e autoestradas grandes, dos enormes pratos de comida ou do crédito fácil. Tudo em troca da segurança, de um modelo e custo de vida mais moderados.
Será justo afirmar que, pelo menos para os americanos que atualmente vivem em Portugal, e para os que o tencionam fazer nos próximos tempos, o "sonho português" venceu a disputa face ao "sonho americano".
Não demorará muito até que a população nacional seja composta por 10% de expatriados. Costuma dizer-se que só se dá valor ao que se tinha quando se perde. Se tantos valorizam e escolhem a "west coast of Europe", talvez seja tempo de nós, portugueses, darmos mais valor ao que temos para que o "sonho português" possa ganhar cada vez mais adeptos dentro de portas.
Advogado