Lisboa sem lugar à mesa

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Há um ano os portugueses encontravam-se nas urnas a expressar o seu voto nas eleições autárquicas. Com os efeitos da pandemia a acalmar e um governo nacional impedido de levar o seu mandato até ao fim, tudo parecia encaminhar-se para o mesmo rumo que as eleições italianas testemunharam ontem.

Independentemente de ser ter assistido a algumas mudanças de cores, nalguns casos muito significativas, o que se passou em Lisboa não deve ser esquecido: contra todas as expectativas, a coligação de direita liderada por Carlos Moedas venceu as eleições.

Quase de imediato, anunciaram-se "novos tempos" e novos ventos. Segundo essas promessas, tudo seria diferente e Lisboa iria conhecer inovação sem precedentes. Todavia, a realidade rapidamente tomou conta do sonho e dos compromissos apregoados.

Perante um novo edil experiente e internacionalmente reconhecido (como o próprio tanto gosta de se autoproclamar), os lisboetas depressa ficaram a conhecer a outra face da moeda de Moedas: um presidente sem maioria e incapaz de construir pontes e consensos, de dialogar com a oposição, optando sempre por um bom momento de televisão em detrimento de uma produtiva reunião de Câmara ou de Assembleia Municipal.

Ao invés da resolução dos problemas usuais da cidade, absolutamente expectáveis num período pós pandémico e no qual o turismo voltou em força, assiste-se a uma novela repetitiva onde o presidente da câmara é uma vítima constante, oprimido por todas e todos.

Esse mesmo presidente, em vez de fomentar e praticar uma política de consenso, prefere criticar a oposição que lhe aprova (a bem da Cidade) mais de 97% das propostas. Cada vez que algo não lhe corre à feição ou se esqueceu de preparar previamente um dossier, lá vem a martirização e as saídas para a comunicação social. Tudo é uma opção viável desde que não envolva sentar-se à mesa e resolver os verdadeiros problemas dos lisboetas.

Não há dúvidas que Lisboa vive há um ano "novos tempos", tempos esses conturbados e com uma câmara inábil perante os diversos desafios de gestão da capital do país. Os problemas exigem uma abordagem estrutural, na qual todos são parte integrante para chegar às soluções. Contudo, o que se percebeu é que nestes tempos novos apenas há espaço para as vontades e birras de uma só pessoa.

Mesmo com este cenário adverso, afirmar que nada foi feito seria desmerecido. É justo elevar os grandes feitos desde há um ano para cá, até porque são na verdade o legado que ainda subsiste do passado recente. Porque o espaço é limitado, ficam dois exemplos concretos: o Plano Geral de Drenagem e a atribuição de mais de uma centena de chaves de casas na cidade.

Quer isto dizer que um ano passou e Carlos Moedas ainda procura o seu espaço, a sua vocação e afirmação. A mais recente prova disso mesmo foi a polémica do aeroporto de Lisboa, onde o autarca da capital quase implorou por um lugar à mesa.

Sucede que nas negociações entre o Governo e o PSD, Luís Montenegro optou por se fazer acompanhar do Vice-Presidente da Câmara de Cascais em vez do Presidente da Câmara de Lisboa. O que daí se conclui? Que sem saber se houve murro na mesa, sabe-se que não houve Lisboa à mesa, o que diz muito sobre estes novos tempos em que vivemos.

Felizmente, no meio desta desorientação de Moedas, a oposição está norteada e conhece bem o seu desígnio: contribuir para que Lisboa não fique pior. Moedas, como sempre, conte connosco.

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