Kennedy contra Kennedy

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Ela estava a dias de fazer 6 anos quando o pai, o presidente John F. Kennedy, foi assassinado. Ele tinha 9 quando viu o tio ser morto e 14 quando carregou o caixão do pai, Robert F. Kennedy, também ele assassinado, na campanha para as Presidenciais de 1968. Caroline Kennedy e Robert F. Kennedy Jr. desde cedo souberam o que era viver com um dos apelidos mais famosos da América e suportar o peso da tragédia. Mas isso não impediu os primos de seguirem caminhos muito diferentes: Robert deixou-se consumir pelo vício da droga, Caroline viveu uma vida discreta, no anonimato possível que os postos por onde foi passando como diplomata lhe davam. Agora, com a audição no Senado de RFK Jr, nomeado por Trump para secretário da Saúde, a filha de JFK quebrou o silêncio numa carta ao senadores em que arrasa o primo, alertando que não tem qualificações para o cargo, acusando-o de ser um hipócrita e um “predador”.

“Conheci o Bobby a vida toda; crescemos juntos. Não me surpreende ter aves de rapina como animais de estimação, porque o Bobby é ele próprio um predador”, afirma Caroline na carta que ela própria lê num vídeo partilhado nas redes sociais. A diplomata, que foi embaixadora no Japão e na Austrália, confessa as reticências em falar publicamente sobre um membro da família, mas diz que a decisão de Trump de nomear um amante das teorias da conspiração, cético em relação às vacinas, para gerir a Saúde dos americanos a fez mudar de ideias.

Caroline, de 67 anos, aponta as falhas no currículo de Robert, de 71, para ocupar o cargo, lembrando que o advogado “não tem experiência governamental, financeira, de gestão ou médica relevante”, mas é o que diz sobre o seu caráter que impressiona. Admitindo que o primo “sempre foi carismático”, acusa-o de atrair os irmãos e primos para a droga. Saúda a sua recuperação, mas afirma que está agora “viciado em atenção e poder”. E garante: “Bobby aproveita-se do desespero dos pais e das crianças doentes - vacinando os próprios filhos e construindo uma base de seguidores ao desencorajar hipocritamente os outros pais de vacinarem os seus.”

Por fim, Caroline admite ter sido difícil ficar calada quando “Bobby se apropriou da imagem” do pai dela e “distorceu o legado do presidente Kennedy para promover a sua própria campanha presidencial falhada - e depois rastejou até Trump para obter um emprego”.

Caroline não é a única Kennedy a demarcar-se de RFK Jr., que não veem como digno representante dos seus valores democratas. Mas, agora, a filha de JFK sentiu que era hora de defender o legado do pai e um apelido que já não tem o fascínio de outrora junto dos americanos.

Editora-executiva do Diário de Notícias

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