Kamala Harris, a antítese de Trump

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Talvez a desistência de Joe Biden da candidatura às eleições norte-americanas deste ano tenha menor risco para o Partido Democrata do que o risco de o presidente se manter na corrida para um segundo mandato, ainda que o partido saia bastante fragilizado com esta decisão. Mas mais importante agora do que a desistência, após o desgaste e pressão sofrida por Biden - de 30 membros do Congresso, pelo menos, e até de Barack Obama -, é saber quem vai avançar pelos democratas contra o regresso de Donald Trump à presidência dos EUA.

Na rede social X, logo após o anúncio - “desistir é do interesse do partido e do país” -, o presidente norte-americano manifestou apoio à candidatura da vice-presidente, a mulher que ocupou o mais alto cargo no país até agora: “A minha primeira decisão, após ter sido nomeado pelo partido em 2020, foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E tem sido do melhor” - elogiou. Trump reagiu logo de seguida, com os insultos habituais a Biden, e a atacar a sua possível nova adversária: “Kamala Harris é mais fácil de derrotar.”

Mas quem é Kamala Harris? Sondagens do Partido Democrata davam-lhe há algum tempo até uma vantagem no confronto com Donald Trump, face a Joe Biden, mas nada de verdadeiramente significativo. A confirmar-se que será esta a escolha, qual vai ser a mensagem que Kamala Harris irá transmitir aos norte-americanos para o futuro - pairando sobre ela o fantasma do falhanço no dossiê da imigração - e como irá ela caracterizar-se perante o eleitorado, podendo tornar-se na primeira mulher à frente da presidência dos EUA se conseguir derrotar o conservadorismo da sociedade norte-americana?
(Antevendo-se, desde já, que a postura machista e anti-imigração de Trump o irá levar a aumentar insultos contra Kamala, mulher e filha de imigrantes, de mãe indiana e pai jamaicano - a antítese de Trump.)

Kamala Harris está longe de ser popular e de recolher a totalidade do apoio do Partido Democrata enquanto candidata eleitoral, daí que as próximas semanas sejam cruciais para perceber quem poderá galvanizar os democratas no desígnio de defrontar Trump - o tempo é curto, mas em quatro meses muita coisa poderá acontecer nesta eleição, que ganha aqui uma reviravolta.

Após a tentativa de assassinato, o candidato republicano estava três pontos à frente de Biden, que insistiu sempre que não desistiria. Voltar atrás nesta decisão, deixa agora uma indefinição que instala o caos.

Mas há uma outra questão que se coloca a partir daqui: quem vai governar os EUA até final do mandato agora que o presidente será substituído enquanto candidato eleitoral? Creio que neste aspeto, o apoio imediato de Joe Biden a Kamala Harris pode ser também uma forma de o presidente tentar gerir esta crise da maneira que menor instabilidade possa trazer à governação nos próximos meses, colocando o país à frente do partido.

Diretor interino do Diário de Notícias

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