Justiça impopular
Em França, o país pioneiro da revolução da liberdade, da igualdade e da fraternidade, uma decisão judicial condenou Marine Le Pen à inelegibilidade.
A acusação é de “peculato”, isto é, de desvio de fundos. Para o Ministério Público, Marine Le Pen – e mais 24 dirigentes e militantes do Rassemblment National – teriam desviado cerca de 7 milhões de Euros (valor dos salários dos assessores parlamentares que trabalham para o partido em vez de estarem em exclusivo na assistência parlamentar ao Rassemblement no Parlamento Europeu).
A acusação e a decisão são, no mínimo, polémicas. Como é que um assessor parlamentar de um partido que está no Parlamento Europeu separa essa função do trabalho partidário? É uma prática comum dos partidos, nomear os seus quadros e militantes como assessores parlamentares. Cá também. De resto, outros partidos franceses, como o MoDem, do actual primeiro-ministro, e o La France Insoumisse, incorrem na mesma irregularidade. Mas uma vez que o principal desígnio do processo era que Marine Le Pen ficasse privada da possibilidade de concorrer às eleições de 2027 – para as quais é, segundo a maioria das sondagens, uma das favoritas – limitar-se a infligir uma multa ao Rassemblement não era suficiente.
A prática de, em nome da Democracia, recorrer a processos muito pouco democráticos tem vindo a vulgarizar-se. Aparentemente, a Esquerda e o Centrão, perturbados pelo facto de os votos populares lhes estarem a fugir da mão, acham-se legitimados a recorrer a formas superiores de luta para parar a maré “populista” ou “de extrema-direita”.
Com Trump tentou fazer-se; Bolsonaro já está acusado de conspirações várias, e na Roménia optou-se por uma decisão arbitrária sem contraditório, invocando o “fantasma russo” para anular uma eleição e depois proibir Calin Georgescu, o candidato que estava à frente nas sondagens, de concorrer.
O clima de medo e belicismo que Macron, Stammer e von der Leyen, tentam instalar na Europa, ajuda a justificar estas “medidas extremas”. A recomendação de uma comissária europeia para que os europeus tivessem em casa mantimentos para três dias, em caso de emergência, diz tudo.
Que fazer então perante a manipulação do poder judicial para bloquear antecipadamente uma decisão popular, a estratégia que a elite globalista de Bruxelas e Davos parece ter escolhido como último recurso perante a vaga nacional-popular que a ameaça?
Marine Le Pen vai tentar a sorte pelas vias pacíficas e legais. Continua à frente nas sondagens (42% dos franceses querem que se apresente pela quarta vez à eleição e entre 34 e 37% votariam nela) e tem grandes chances de vencer a segunda volta.
Os franceses, à esquerda e à direita, costumam sair à rua quando provocados. Fazem-no desde os finais do século XIX, quando do caso Panamá. Agora que mais de dez milhões de franceses, um terço do eleitorado, se vêem marginalizados através da sua candidata, ficarão em casa?
A interdição é, claramente, desproporcionada à prevaricação. No Parlamento francês, o grupo do Rassemblement manifestou o seu apoio a Marine; o primeiro-ministro Bayrou confessou-se “perturbado”; o ministro da Justiça, Darmanin, disse esperar que o apelo se resolvesse o mais rapidamente possível; e Mélenchon, que também tem um problema semelhante, reafirmou que queria vencer Marine Le Pen nas urnas e não na secretaria.
Para já, contra a decisão de primeira instância, vai haver apelo. E novo juízo… lá mais para o Verão de 2026.