Jovem agredido na escola: quando os espectadores nada fazem
Um jovem de 12 anos foi nesta semana agredido por um colega de 14, em Matosinhos. Uma situação de extrema violência filmada pelos colegas e depois publicada nas redes sociais. Colegas que nada fizeram para proteger a vítima, deram palco e acabaram por reforçar o comportamento agressivo.
Esta situação de violência exige da parte de todos nós uma reflexão séria sobre um conjunto de situações. Em primeiro lugar, temos um agressor e uma vítima, mas temos também numerosos espectadores que não apenas não fazem nada como ainda reforçam o comportamento que deveriam tentar eliminar, filmando-o e permitindo que o mesmo seja partilhado no mundo virtual, recebendo mais atenção. Estamos perante o chamado "efeito espectador" - em face de uma situação de emergência (em que alguém é vítima de alguma forma de violência), quem assiste tem menos probabilidade de ajudar quando está na presença (real ou imaginada) de outras pessoas do que quando está sozinho. Estas pessoas, os observadores ou by-standers, ficam apáticos e sem ação, e não intervêm. Mesmo filmando a situação de violência, mantêm um comportamento passivo. Este efeito relaciona-se ainda com a difusão da responsabilidade - a responsabilidade em ajudar o outro deixa de estar centrada apenas numa pessoa (quem assiste), mas dilui-se por todos os que assistem. Esta difusão da responsabilidade tende a minimizar a culpa individual - "todos podiam ter ajudado, logo, eu não tenho culpa por não ter feito nada". "Como a responsabilidade é de todos, não é de ninguém."
Em segundo lugar, percebemos que esta situação decorre na escola e uma questão desde logo se coloca: qual foi e qual poderá ser o papel da escola neste tipo de situações? Que tipo de medidas adotou e, talvez ainda mais importante, o que tem feito no sentido de as prevenir? Não apenas esta escola em concreto, mas todas as escolas do nosso país.
"É apenas uma briga entre miúdos" e "quem é que nunca andou à bulha?", dizem alguns. Pois quando os miúdos resolvem os seus problemas, sejam eles quais forem, à pancada, acreditando que a violência é uma forma aceitável, legítima e até mesmo necessária para essa resolução, temos um grave problema. Porque temos miúdos que crescem com este tipo de crenças que se traduzem, depois, em comportamentos mais agressivos. Padrões que tendem a enraizar-se e a rigidificar-se, perpetuando-se ao longo do tempo.
Enquanto pais, professores, profissionais ou cidadãos, temos de parar para pensar. Estamos a educar as nossas crianças no sentido de recorrerem à violência como forma legítima de resolverem os seus conflitos? Permitimos que assistam passivamente à dor e ao sofrimento alheio, mais centradas em si do que nos outros? Não queremos, antes, promover a empatia e o altruísmo? E se sim, o que podemos fazer nesse sentido? O que pode e deve fazer a família, a escola e toda a comunidade?
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal