“Janela para Oriente”
"Tenho uma janela amarela virada para Oriente”, assim começa a prosa-poética, sob título óbvio e da pena do poeta Eduardo White (1963-2014), Caminho, 1999. Porquê esta referência a este “quase Luiz Pacheco moçambicano”?
Em primeiro lugar, porque sinto saudades do nevoeiro que paira em todas as memórias que tenho com o poeta e, em segundo, porque há acontecimentos que me transportam de imediato para este livro/título e para o debate com o amigo imaginário que o Eduardo passou a ser, desde que morreu!
Novidades a Oriente: há uma semana, considerámos uma Somalilândia independente e a ganhar momento, via “exportação de Gaza”! Esta semana, a hipótese “independente” mantém-se, mas com menos força, após o primeiro-ministro (PM) da Etiópia, Abyie Ahmed, ter declarado quinta, 20, que não vai para a guerra com a Eritreia, para ter acesso ao mar.
Esta parece ser uma resposta sensata da Etiópia, aos recentes “moves” eritreus de mobilização/recrutamento militar nacional, mais o destacamento massivo de tropas para zonas de fronteira. O diálogo foi restabelecido, um primeiro momento de boa vontade a registar. O espectro da guerra nesta África Oriental não é negligenciável, mas também teve outro momento de “coelho tirado da cartola”, que impressionou tudo e todos/as!
A 18 de março estava marcada reunião magna da União Africana (UA), em Luanda, sob a presidência de João Lourenço, presidente (PR) de Angola e da UA em 2025, entre uma delegação da República Democrática do Congo (RDC) e do M23, o grupo rebelde apoiado pelo Ruanda, que tem “varrido” o leste da RDC a ferro-e-fogo, conquistando território de mina em mina, o real “móbil do crime”!
No mesmo dia em que o M23 abandona Luanda recusando-se a participar numa reunião que dizem “martelada”, o emir do Qatar, sheikh Tamim bin Ahmad Al Thani, “sacou o seguinte coelho”: à medida que o avião do PR da RDC, Felix Tshisekedi levantava voo, anunciou que tinha mediado reunião entre este e o PR do Ruanda Paul Kagame, garantindo assim um cessar-fogo imediato do conflito no leste da RDC!
A conclusão é óbvia e imediata: o PR João Lourenço, já não é mais o mediador entre Tshisekedi e Kagame. Esse lugar foi agora ocupado mais a Oriente, por um “Príncipe das Arábias” que tem tudo, menos demografia e metais críticos!
“Vou fechar a janela amarela que tenho virada para Oriente. Vou restabelecer outro milagre de sonhar.” Assim termina esta “janela do White”, que se me abriu quando soube do “telex de quinta” do PM Abyie Ahmed da Etiópia, renunciando à guerra, pelo acesso ao mar!
Politólogo/arabista
Escreve de acordo com a antiga ortografia