iPhone e IA: um comboio que a Apple já deixou partir?

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O ciberespaço da tecnologia está, neste início de semana, muito excitadinho com a notícia (ainda que não-oficialmente confirmada) de que a Apple irá alinhar com a maioria das outras grandes marcas de smartphones e passar a lançar um modelo de média gama, na primeira metade do ano, e os topos de gama, no outono. Pode dizer-se, assim, que a marca da maçã passa a ser um pouco mais como as outras… exceto naquilo que verdadeiramente conta.

É que a vaga da Inteligência Artificial (IA) transformou a forma como interagimos com a tecnologia e, nos smartphones, essa revolução ganha já contornos distintos. E, enquanto o ecossistema Android abraça uma integração cada vez mais profunda de ferramentas de IA generativa - como o Gemini e o Copilot a nível do sistema operativo -, o iPhone é cada vez mais uma estação distante deste ‘comboio de alta velocidade’.

Atualmente, um utilizador de iPhone que deseja usufruir das capacidades de IA avançadas é obrigado a recorrer a aplicações de terceiros, pois a Apple não consegue fornecer-lhe algo tão completo. A capacidade de, num dispositivo Android, selecionar um texto em qualquer aplicação e invocar o Gemini para o resumir instantaneamente, gerar ideias relacionadas ou até mesmo traduzi-lo, tudo sem sair do seu fluxo de trabalho, é algo que o dono de um iPhone não pode fazer. Ou então, utilizar o Copilot para auxiliar na redação de um e-mail diretamente na aplicação Gmail ou no Outlook, com sugestões contextuais e até mesmo a geração de frases completas, também são interações cada vez mais nativas nos dispositivos Android.

A Siri, embora presente há anos, continua a demonstrar limitações gigantescas em comparação com as novas gerações de assistentes de IA em termos de compreensão contextual e capacidade de realizar tarefas complexas.

Esta hesitação da Apple em adotar uma integração mais profunda de IA pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo a sua tradicional abordagem de controlo rigoroso sobre o ecossistema e uma possível estratégia de desenvolvimento interno de soluções próprias. Mas esta postura pode ter um custo significativo.

A questão central é se a Apple conseguirá alcançar e superar esta diferença com as suas próprias soluções de IA ainda a tempo de manter a relevância na inovação móvel - até porque o iPhone continua a ser a grande fonte de faturação da marca. Hoje, não há sinais de que tal aconteça. O risco é que, enquanto o Android se torna um ambiente cada vez mais inteligente e intuitivo, graças à IA integrada, os smartphones da maçã continuem a privar os seus utilizadores das ferramentas de inteligência que moldam o futuro da interação digital.

Editor do Diário de Notícias

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