Internacionalização: um novo ponto de partida
Os mais recentes dados dos saldos externos mostram que a economia portuguesa apresenta superavits (excedentes) face ao exterior. O Banco de Portugal destaca que em 2023 a economia portuguesa teve uma capacidade de financiamento de 7,2 mil milhões de euros (2,7% do PIB) e o saldo positivo da balança de bens e serviços foi de 3,3 mil milhões de euros.
Portugal apresenta o 6.º lugar no ranking dos países da União Europeia (e 10.º na OCDE) com maior stock de investimento direto estrangeiro. Apresenta mais de 70% do PIB, aproximadamente 20 pontos percentuais acima de média da OCDE, e em linha com a média da UE. Mais que a maioria dos competidores de Leste - só a Estónia tem um valor superior -, e mais que a Espanha, a França ou a Grécia. Em poucos rankings teremos um desempenho tão assinalável.
As exportações atingiram em 2022 os 50% do PIB. Mais exportadores, mais valor acrescentado e números recorde de contratualização de investimento por parte da agência pública: a AICEP. O contributo inexcedível do setor exportador e das políticas públicas de captação de investimento estrangeiro está presente nos recordes das mais diferentes indústrias, desde a agricultura (2,3 mil milhões de euros, em 2023, na horticultura, fruticultura e na floricultura) à metalomecânica, aos serviços, às empresas e ao turismo. Quando muitos continuam à procura de novas AutoEuropas, esquecem - ou não sabem - que nos últimos anos a Volkswagen, a BMW (com a Critical Software), ou a Mercedes fizeram investimentos em Portugal que, em conjunto, criaram milhares de postos de trabalho. Para além da Airbus, a Bosch, a Google e os seus parceiros, a Microsoft, ou a Zendal no setor farmacêutico, entre muitas outras. O país (felizmente) não parou em 1995.
Estes resultados extraordinários não podem parar. E se é certo que muito se deve ao empenho das empresas nacionais, não deixa de ser verdade que uma parte importante radica no círculo virtuoso IDE/Exportações, onde a captação de investimento com propósitos de servir a procura externa garantiu um salto quantitativo e qualitativo, com impactos positivos nos salários médios pagos na economia portuguesa.
A boa gestão e condução de recursos - que cabe ao Governo fazer - entre a AICEP, a rede diplomática, as Associações Empresariais, as Câmaras de Comércio, tem de cumprir-se, e não deixo de assinalar que a solução orgânica do Governo coloca desafios importantes quando afasta a tutela da rede diplomática da tutela da agência de investimento e comércio externo, ainda para mais num quadro onde o IDPE ganhará progressivamente importância, numa economia, que podemos continuar a classificar, como late investor (na relação entre inward e outward investment).
Recordo que desde 2011- nos últimos 13 anos -, que a AICEP foi tutelada pelo MNE ou pelo vice-primeiro ministro, em Governos diferentes, uns do PS e outros do PSD/CDS. Provavelmente, por diferentes razões, os melhores anos de sempre do setor exterior da economia portuguesa.
Quando mais recentemente o país viu a economia crescer, convergindo como nunca tinha convergido com a média da UE, dentro da área do euro, sem cair nos crónicos défices da Balança de Bens e Serviços, isso deve-se ao resultado de políticas públicas estáveis, com medidas e metas, num envolvimento coletivo, e a objetivos claros partilhados por todos. Como foi o caso do Programa Internacionalizar.
Há (sempre) muito a fazer. Na valorização da origem (marca) Portugal, na promoção do país como um bom território de acolhimento de investimento, nas políticas e ações cruzadas entre bens e serviços (e entre estes e o Turismo), entre outros aspetos. Sem começar de novo. Este país atingiu um grau de abertura superior a 100% em 2022. É um caminho para prosseguir e não pode ficar refém das agendas internas que disputam sempre o seu quinhão de recursos, e é por isso que a voz da internacionalização (orgânica) deve ser autónoma e orientada (exclusivamente) para o exterior. Sendo muitas vezes o verdadeiro provedor do setor externo português. Se assim não for, num momento em que emergem tensões em torno da dívida de alguns Estados-membros, e o Governo parece persistir, sem outro rumo que não as eleições antecipadas, em criar mais despesa e ter menos receita, temos os condimentos para más opções, autocentradas, sem ambição e direção. São muito perigosas para o futuro do país, e que não garantem um crescimento saudável e sustentável da economia portuguesa.