Inteligência Artificial em escala: do Algoritmo à Ação
Num mundo onde a Inteligência Artificial Generativa domina os holofotes — com ferramentas como o ChatGPT a captar a atenção do público e das empresas —, é fundamental lembrar que a verdadeira revolução tecnológica acontece quando se adota uma perspetiva mais abrangente.
É essencial o uso do espectro completo de IA para impulsionar a transformação digital em larga escala. É o caso da Axians e do grupo VINCI, que estão a liderar uma transformação silenciosa, mas profunda, ao aplicar IA em escala para resolver desafios reais em setores críticos como a construção, energia e concessões.
A VINCI, com presença em mais de 120 países e milhares de colaboradores, enfrentava um desafio comum a muitas grandes organizações: como transformar volumes massivos de dados e processos complexos em soluções ágeis, escaláveis e de impacto real? Foi neste contexto que nasceu o Leonard, a plataforma de inovação do grupo, e, em 2019, o seu braço dedicado à inteligência artificial — o Leonard AI.
O programa não se limita a explorar as possibilidades da IA. Ele estrutura a inovação com uma abordagem metódica: todos os anos, centenas de projetos são submetidos e apenas cerca de 15 são selecionados com base em critérios rigorosos, como impacto nos negócios, replicabilidade, qualidade e quantidade de dados disponíveis, bem como o benefício social e ambiental.
Durante seis meses, mais de 25 data scientists colaboram com engenheiros, programadores, designers e especialistas de negócio das áreas envolvidas, formando uma equipa multidisciplinar que mobiliza cerca de 300 profissionais anualmente.
O impacto é global. Com mais de 80 soluções de IA desenvolvidas em 12 países, o programa Leonard AI está a moldar o futuro de forma tangível. A Axians Portugal destaca-se como um Centro de Excelência, responsável por disseminar e escalar o conhecimento adquirido, descentralizando as competências em IA dentro do grupo.
Entre os exemplos de sucesso, estão soluções de visão computacional aplicadas a diversos setores:
• Utilização de drones para inspecionar turbinas eólicas e detetar defeitos;
• Análise de imagens de satélite para identificar fugas de água em redes urbanas;
• Avaliação do comportamento de clientes em lojas através de câmaras CCTV.
Mas os exemplos mais fascinantes são aqueles em que a IA ajuda na automatização de tarefas altamente técnicas, como o desenho de sistemas de proteção contra incêndios e redes de climatização (aquecimento, ventilação e ar condicionado). Com algoritmos desenvolvidos internamente, os engenheiros passaram a ser 10 vezes mais rápidos, mantendo a qualidade e respeitando normas de segurança. O resultado: 96% das sugestões geradas pela IA são efetivamente implementadas em obra.
Inspirados por desafios ainda mais complexos, a empresa recorreu a uma tecnologia emergente: a computação quântica. Em colaboração com o Quantum Basel e a D-Wave Systems, desenvolveram um algoritmo quântico capaz de otimizar o desenho de redes de climatização em segundos — uma tarefa que antes demorava mais de 16 horas. Além da velocidade, o algoritmo gerou soluções mais eficientes, sustentáveis e económicas, com menos cruzamentos de tubos e menor uso de materiais.
Este avanço demonstra que a computação quântica já está a oferecer soluções concretas, deixando de ser apenas uma promessa futurista.
A filosofia da Axians assenta naquilo que chamam “espectro total de IA, em escala” — uma abordagem que integra diversas técnicas de IA (e não apenas as generativas), com uma lógica de centralizar o desenvolvimento, validar a eficácia e depois descentralizar a aplicação, assegurando a adoção em larga escala por toda a organização.
Este modelo de inovação colaborativa e escalável não só gera valor imediato, como também prepara a empresa para o futuro, num ecossistema em constante evolução.
Em suma, a experiência da Axians e da VINCI mostra que o verdadeiro poder da IA está na sua aplicação prática e integrada. Num mundo que se foca muitas vezes no uso das inovações em tarefas acessórias, estas organizações estão a construir — literalmente — as fundações do futuro.
Responsável de Inovação da Axians Portugal e Mentor no Leonard AI