Informar ou o eterno combate pela liberdade

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A luta pela liberdade assumiu e assume, sempre, uma miríade de dimensões.

De entre elas destaca-se sempre a liberdade de informar e de ser informado.

Portugal conheceu durante décadas a censura, os textos estropiados, as meias palavras e as meias verdades, os ardis de quem escrevia enganando os censores para poder comunicar.

Felizmente que todos estes constrangimentos foram ultrapassados a 25 de Abril de 1974 e, a partir daí, uma comunicação social livre pôde ajudar-nos a conhecer melhor o que se passa no mundo, ou no nosso bairro, e a formarmos a nossa opinião.

Imprensa livre, jornalismo livre, liberdade de imprensa, são aquisições de valor inestimável.

E porque assim é, devemos ter hoje a capacidade de perceber, e reagir, a um conjunto muito significativo de mudanças na forma como acedemos à informação. Ou, será desinformação?

Todos os dias somos submersos por conteúdos com origem em redes sociais das quais nada conhecemos. Conteúdos sem autores conhecidos, e, por isso, não responsabilizáveis e conteúdos que, frequentemente, circulam com uma difusão à escala global.

Imagens, textos, “notícias”, que, com frequência, misturam pequenas porções de realidade com discursos politicamente dirigidos e, sempre, dirigidos no mesmo sentido, isto é, contra a democracia.

Que dizer e que pensar quando a jovem recentemente nomeada porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, iniciou as suas funções “prometendo corrigir as mentiras dos jornalistas e, em simultâneo, abrir a sala de imprensa a podcasters e influencers”.

Para quem como nós, portugueses, assistimos a uma recente polémica sobre a titularidade da carteira profissional de jornalista…

Ao mesmo tempo, e mesmo sem sabermos com rigor do que estamos a falar, temos notícia dos impactos na comunicação da Inteligência Artificial, de trolls, de algoritmos, e de poderosos instrumentos informáticos que podem criar a nossa cara ou reproduzir a nossa voz.

O último caso terá sido o da difusão da aplicação DeepSeek. Todos prestámos atenção ao seu impacto no valor de mercado das tecnológicas americanas. Já nem todos teremos prestado a mesma atenção ao facto de que esta é uma aplicação que se autocensura em matérias politicamente sensíveis.

A benefício da democracia e da nossa liberdade, quer os cidadãos quer os poderes públicos devem apoiar e valorizar a comunicação com rosto, autores e responsáveis. E os que veiculam informação devem reforçar as preocupações de verdade, rigor e exactidão.

É a liberdade de todos nós que está em causa.

Ou, como terá dito, Albert Camus: “Uma imprensa livre pode ser boa ou má, mas, certamente, sem liberdade será sempre má." E há muitas formas de coartar a liberdade…

Advogado e gestor

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