INEM em rutura? A emergência pré-hospitalar em alerta

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O INEM, pilar da emergência médica em Portugal, atravessa um dos momentos mais críticos da sua história. O que deveria ser um serviço de excelência e resposta rápida, eficaz e humana tem, no entanto, sido, para muitos profissionais e utentes, sinónimo de espera, frustração e cuidados de fraca qualidade. Falhas nos sistemas de comunicação, ambulâncias com mais anos de vida do que o legislado e aceitável, falta de técnicos, desvalorização da carreira e formação inadequada, são sintomas visíveis de um sistema à beira do colapso.

Todos os dias, centenas de ocorrências colocam à prova um modelo de emergência que já não responde às exigências do país. O tempo de resposta alarga-se, os meios escasseiam e, em muitos casos, o socorro chega tarde demais. Os Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) e os Tripulantes de Ambulância de Socorro (TAS), verdadeiros pilares do sistema, trabalham em condições difíceis, com salários desajustados e sem uma carreira profissional reconhecida, particularmente os TAS dos Corpos de Bombeiros e Cruz Vermelha Portuguesa, que, não obstante terem um menor número de horas de formação são aqueles que garantem cercam de 90% da assistência Pré-Hospitalar aos portugueses. São estes últimos, que demasiadas vezes lidam com situações de risco de vida imediato e ainda assim são apenas capazes de providenciar cuidados de suporte básico de vida.

Ambulâncias que deviam estar fora de circulação continuam operacionais por falta de alternativas. O sistema de triagem e coordenação, está notoriamente ultrapassado, incapaz de gerir eficazmente os parcos meios disponíveis, gerando envios de meios para a esmagadora maioria dos pedidos, incluindo até os que não necessitam. As consequências? Atrasos no socorro, stress nos profissionais e risco direto para os doentes.

Neste cenário preocupante, a ANTEM – Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica – assume um papel de denúncia, pressão e proposta. É uma das poucas vozes que se levanta de forma clara contra a inércia do poder político e a gestão descoordenada do INEM. A ANTEM tem alertado para a urgência de reformar o modelo pré-hospitalar, exigindo a criação de uma carreira digna, o abandono do atual modelo formativo e implementação de um programa educativo focado na Medicina Pré-Hospitalar suportado na mais atual evidência científica disponível para o setor.

Enquanto o mundo avança na profissionalização da emergência médica, Portugal continua preso a um modelo ultrapassado, onde o socorro depende de estruturas frágeis e de profissionais subvalorizados. Está na hora de romper com esta inércia e implementar, com coragem política e visão estratégica, um verdadeiro sistema de Medicina Pré-Hospitalar, alicerçado em Técnicos de Emergência Médica (TEM) e Paramédicos — profissionais formados, reconhecidos e valorizados internacionalmente.

A emergência pré-hospitalar não pode continuar a ser um serviço improvisado. Cada minuto perdido entre o acidente, a doença súbita e o tratamento adequado podem significar uma vida a menos. Países como o Reino Unido, Canadá e Alemanha demonstram há décadas que investir em TEM e Paramédicos reduz mortalidade, melhora prognósticos e liberta os serviços hospitalares.

É tempo de mudar. Disseminar a educação em medicina Pré-Hospitalar é imperativo e urgente.

A sociedade exige respostas. A ciência oferece soluções. Só falta vontade política. O tempo de agir é agora.

É urgente repensar o INEM, não como um centro de custos, mas como um serviço essencial à vida e ao Estado Democrático de Direito.

Presidente do Conselho Diretivo da Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica

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