Indústria da Construção em Portugal: o que nos disse o Barómetro 2024

Publicado a

O setor da construção continua a ser um dos pilares estruturais da economia portuguesa, tanto pelo seu peso económico direto como pelo efeito multiplicador em atividades conexas. Os dados do Barómetro 2024 da Indústria da Construção, promovido pela Fundação Mestre Casais, oferecem uma radiografia detalhada e atualizada das dinâmicas, preocupações e tendências que moldam esta atividade. 

O estudo assenta nas respostas de 46 gestores de topo de empresas com alvarás das classes 7, 8 e 9, representando, por isso, o segmento de maior escala e relevância no panorama nacional. Em termos gerais, o setor revela um posicionamento confiante: a quase totalidade das organizações (98%) anteciparam crescimento em 2024, com 35% a estimarem um aumento superior a 15%. 

Contudo, este otimismo relativo é temperado por um conjunto de fatores de risco que, não sendo diretamente controláveis, têm impacto sobre a estabilidade e a previsibilidade do setor. Entre as principais ameaças identificadas destacam-se o fraco crescimento da economia europeia e mundial, os conflitos geopolíticos em curso e as pressões inflacionistas — elementos que contribuem para um ambiente de incerteza. 

O investimento público em infraestruturas é visto com expectativa moderada. Já no domínio da habitação, os resultados revelam uma opinião mais crítica: com 46% a discordarem das políticas públicas. 

O crescimento projetado em 2024 estava ancorado sobretudo no segmento residencial (34%) e em “outros edifícios” (37%), com os clientes privados a liderarem a procura (45%). O setor público, incluindo Estado central e autarquias, continua a ser um ator relevante (55%), mas perde preponderância face à iniciativa privada. 

Em matéria de internacionalização, verifica-se uma estagnação preocupante: 61% das empresas respondentes continuam a não operar fora de Portugal, e apenas 9% estão presentes em quatro ou mais mercados. Esta limitação poderá comprometer a competitividade a médio prazo, sobretudo num setor altamente sensível a ciclos económicos internos. 

Do ponto de vista estrutural, os desafios mais prementes dizem respeito à força de trabalho: 49% das empresas apontam a escassez de mão-de-obra qualificada como o principal entrave à atividade. A produtividade, por sua vez, depende fortemente da inovação em métodos construtivos e materiais (40%), da formação contínua (29%) e da digitalização (20%). 

Ainda que o setor revele abertura à inovação, a sua adoção plena permanece tímida. A adoção de tecnologias como o BIM ou a Inteligência Artificial, embora crescente, ainda se encontra numa fase embrionária ou em planeamento. 

Em síntese, a indústria da construção em Portugal apresenta-se como resiliente e com capacidade de adaptação. No entanto, enfrenta desafios estruturais que exigem uma visão estratégica integrada, com especial atenção à qualificação de recursos humanos, à sustentabilidade e à internacionalização.  

 Professor catedrático

Diário de Notícias
www.dn.pt