Indústria de Defesa Europeia: dilemas e realidades

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A revista Politico mencionou, recentemente, uma entrevista da embaixadora americana na NATO, Julianne Smith, onde são levantadas uma série de preocupações com eventuais medidas protecionistas dos países europeus, na aquisição de equipamentos militares. Esta preocupação americana, que deve ser tida em consideração, constitui motivo para uma reflexão mais profunda sobre aspetos fundamentais da relação transatlântica, que urge preservar. Temas como: a designada Autonomia Estratégica europeia, o mercado europeu de defesa e a sua capacidade industrial, os fundamentos políticos, estratégicos e económicos da relação transatlântica, assim como a necessária articulação, entre as nações do mundo das democracias, para as respostas adequadas aos desafios estratégicos colocados pelo mundo das autocracias.

A segurança da Europa é indissociável da segurança da área euro-atlântica, por imperativos geográficos e políticos e exige um mecanismo de defesa e segurança comum.

Mas vamos aos factos. O risco de uma tensão entre os EUA e os aliados europeus é real, fruto de um desequilíbrio sobre o esforço colocado na Defesa entre os EUA e os parceiros europeus. Esta tensão pode vir a ter aspetos críticos, fruto dos resultados das próximas eleições americanas. E os fatores desta tensão só poderão ser mitigados com um esforço maior de gastos em Defesa por parte dos europeus, nomeadamente o investimento em capacidades militares.

Sabemos que a Indústria de Defesa Europeia não possui, de momento, capacidade de acomodar o necessário aumento da produção desses equipamentos, nem a sua sustentação, num futuro conflito armado na Europa. É, assim, urgente e necessário dinamizar o crescimento da Indústria de Defesa Europeia, passos que estão a ser iniciados, mas que só irão criar resultados a prazo. Mas, estas dificuldades também existem, em menor escala, do lado dos EUA.

A constatação destas dificuldades obriga, acima de tudo, a investir mais em Defesa no sentido de ter capacidades dissuasoras na Europa e no Indo-pacífico, possíveis teatros de operações futuros. A tão propalada autonomia estratégica da Europa será sempre um objetivo a prazo, que exige um plano de industrialização da Europa em termos de I&D, de infraestruturas produtivas e recursos humanos qualificados.

Algum protecionismo nos mercados de armamento é uma realidade, que deve ser equilibrada com os princípios da economia de mercado, de adquirir os melhores equipamentos ao mais baixo preço. Uma guerra comercial, entre os aliados, era o melhor que podia acontecer às ameaças, reais e potenciais, que se prefiguram no horizonte estratégico. Cooperação económica e industrial na Defesa é a palavra-chave para o sucesso estratégico das democracias, onde se inclui o Japão, a Correia do Sul e a Austrália, entre outros.

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