IA: Portugal tem de perceber que tem de haver formação para todos!

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Há previsões ousadas sobre o futuro da IA e seu impacto:

1)     “A IA será a mudança mais profunda das nossas vidas”, Sundar Pichai, CEO da Alphabet;

2)     “A IA trará a maior transformação do mercado de trabalho global da história”, Dario Amodei, da Anthropic;

3)     “Numa década, talvez todos os habitantes do planeta Terra sejam capazes de realizar mais do que a pessoa de maior impacto consegue hoje em dia.”, Sam Altman, CEO da OpenAI.

Será a IA uma ferramenta para democratizar oportunidades? Isso mesmo foi considerado no início dos anos 2020. Na altura, ao automatizar tarefas complexas a tecnologia beneficiaria principalmente trabalhadores com menor qualificação, permitindo que eles tivessem acesso a metodologias e práticas que, até então, estavam restritas aos mais talentosos. Jensen Huang, CEO da Nvidia, chegou a imaginar um futuro onde “todos serão CEOs de agentes de IA”, sugerindo um cenário de acréscimo de poder para cada ser humano individualmente.

Historicamente, as grandes transformações tecnológicas – da Revolução Industrial à era da computação – favoreceram tendencialmente os profissionais mais qualificados e adaptáveis. Engenheiros e programadores viram os seus salários dispararem, enquanto funções mais rotineiras foram substituídas ou desvalorizadas. A IA parece seguir a mesma lógica: enquanto os líderes com visão estratégica irão aproveitar ao máximo as novas ferramentas, trabalhadores com menor qualificação poderão ver as suas atividades muito mais obsoletas ou totalmente.

É certo que as atuais ferramentas de IA são apenas o começo. À medida que a tecnologia evoluir, agentes semi-autónomos poderão transformar radicalmente o ambiente de trabalho. Mesmo que, num primeiro momento, a IA permita que os trabalhadores realizem tarefas de forma mais eficiente, o “efeito CEO” – em que os mais qualificados irão continuar a destacar-se – poderá ter tendência a persistir.

Assim, a promessa de que a IA viria nivelar o campo de atuação para todos traz enormes desafios. Embora a tecnologia possa inicialmente melhorar a produtividade de trabalhadores menos experientes, a verdadeira vantagem competitiva recairá sobre aqueles com maior expertise e visão mais ampla, melhor pensamento crítico e melhor criatividade. Assim como em revoluções tecnológicas anteriores, a IA tende a ampliar as diferenças entre os melhores e os demais, deixando claro que, no futuro do trabalho, o talento e a capacidade de adaptação continuarão a ser os fatores decisivos para o sucesso.

Ou isto, ou a formação massiva de todos em IA que, na pior das hipóteses, poderá salvar muitos trabalhadores da obsolescência. E é por isso que a formação em IA deve, por proposta individual ou das empresas, sofrer um incremento que não seja apenas teórico, antes efetivo. Portugal, como early adopter típico de tecnologia, pode e deve estar na linha da frente desta formação massiva. Hoje. Agora.

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