IA – Inovação com alma
Vivemos uma revolução silenciosa que está a transformar a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos com o mundo: a revolução da Inteligência Artificial (IA). E esta transformação não é apenas inevitável — é já real. A questão que se coloca é: estaremos a preparar-nos com a rapidez e a visão que esta mudança exige?
Estudos recentes apontam que cerca de um terço das funções em Portugal poderá ser automatizado nos próximos anos. O impacto será também sentido em setores como o alojamento turístico e a restauração, que sendo atividades profundamente humanas, já integram soluções tecnológicas, como assistentes virtuais para reservas, sistemas
inteligentes de gestão de stocks, menus digitais com recomendações personalizadas ou até robots de cozinha. Mas esta não é uma história de substituição. É, acima de tudo, uma história de transformação.
Como afirmava o casal de futuristas Heidi e Alvin Toffler, os analfabetos do futuro não serão os que não sabem ler e escrever, mas sim os que não sabem aprender, desaprender e voltar a aprender. Este é o verdadeiro desafio do nosso tempo: requalificar os trabalhadores (reskilling). E aqui, o papel das empresas, das escolas, das universidades e das associações empresariais é decisivo.
Também as próprias empresas, começam a reconhecer que a adoção da IA não se resume à aquisição de tecnologia, mas vai mais além, até à transformação de mentalidades, de práticas de gestão, e de modelos de negócio. É urgente preparar as equipas, sensibilizar os líderes e criar condições reais para que todos possam acompanhar esta transição, sob pena de vermos agravar-se o défice de competências, que, hoje, já é evidente.
O nível de digitalização de muitas empresas é preocupantemente baixo. Ainda existem estabelecimentos sem email, muitos processos em papel e empresários que não veem a formação como uma prioridade, porque também nunca foram capacitados para tal.
Mas a vontade de evoluir existe - desde que tenham meios, formatos flexíveis (como a formação híbrida) e apoio real no terreno. Formar não pode ser um luxo, tem de fazer parte da rotina.
Uma boa notícia: todas as grandes revoluções tecnológicas acabaram por criar, no médio prazo, mais empregos do que aqueles que destruíram. A História mostra-nos que, sempre que há uma revolução, surgem novas necessidades - e, com elas, novas oportunidades. O problema não é a IA.
O problema é não preparar as pessoas para a nova realidade.
O impacto da IA nos setores do Turismo será tanto mais positivo quanto mais inclusivo e estrategicamente acompanhado for o seu processo de integração. Se bem aproveitada, a IA pode libertar-nos para aquilo que não pode ser automatizado, para aquilo que nenhuma máquina pode substituir: a hospitalidade, o cuidado, a empatia e a arte de criar experiências memoráveis. Ou seja, tudo aquilo que realmente diferencia
o serviço que prestamos.
Neste caminho, também o bem-estar dos trabalhadores tem de ganhar centralidade.
Muitas empresas, inclusive em Portugal, já investem em “Departamentos da Felicidade”. E não, não é ficção: com a IA a tratar de tarefas rotineiras, o futuro do trabalho pode, e deve, ser desenhado para pessoas felizes. Trabalhadores realizados, motivados e reconhecidos são a melhor aposta para negócios sustentáveis. Afinal, ninguém quer ser servido por um robot maldisposto - e muito menos por um humano infeliz.
É preciso agir já, com ambição, mas também com realismo. O desafio não está apenas em não ficar para trás - está em liderar a mudança. Formar, informar, capacitar e investir nas pessoas é o caminho mais seguro para garantir que a IA é uma aliada, e não uma ameaça. Porque, no fundo, não se trata apenas de tecnologia. Trata-se de futuro. E o futuro - tal como o Turismo - é feito de pessoas.
E um algoritmo, por mais avançado que seja, nunca saberá o que é a empatia, e nunca será capaz de substituir um sorriso genuíno.
Secretária-geral da AHRESP