Hoje, Portugal Esgotou o Ano
Hoje é 5 de maio, dia em que Portugal esgota a sua quota anual de recursos naturais. Isto significa que, se todos os países do mundo consumissem ao ritmo português, a Terra precisaria de 2,5 planetas para regenerar o que gastamos num único ano. Contudo, Portugal não é um caso isolado, nem está entre os maiores responsáveis pelo colapso ambiental global.
Todos os anos, a Global Footprint Network calcula o chamado “Dia da Sobrecarga Ecológica” de cada país: o momento em que a procura por recursos (comida, energia, matérias-primas) ultrapassa aquilo que o território em si consegue regenerar. Naturalmente, países com menor dimensão geográfica, elevada densidade populacional ou uma economia baseada em consumo e serviços chegam a essa data mais cedo. E Portugal, como tantos outros países europeus, encaixa nesse perfil.
Mas o que realmente importa — o verdadeiro alarme planetário — é o “Dia da Sobrecarga Global”, a data em que a Humanidade, como um todo, gasta aquilo que o planeta pode renovar. Em 2024, foi a 2 de agosto. Em 2025, tudo indica que será por volta dessa mesma altura, talvez um pouquinho mais cedo. É esse o dia que conta, porque resulta do balanço entre os países que esgotam cedo e os que ainda estão dentro da sua capacidade ecológica. Procura-se um equilíbrio — ainda que frágil –, que nos está a fugir há décadas.
A questão é: quanto mais cedo os países desenvolvidos — como o nosso — ultrapassarem a sua capacidade, mais cedo também virá o esgotamento global.
Cada país contribui, à sua maneira, para essa balança. E a responsabilidade não se mede apenas pela data, mas também pela vontade de inverter a tendência.
Portugal pode não ser um dos grandes emissores globais, nem um dos maiores poluidores industriais, mas isso não nos desculpa. O nosso consumo, as nossas escolhas alimentares, a forma como gerimos os resíduos, a energia que usamos em casa, tudo isso faz parte de um sistema global. E temos a obrigação de liderar pelo exemplo.
Hoje, mais do que um dia de alarme, deve ser um dia de reconhecimento e reorientação. Reconhecer que a pressão sobre os recursos do planeta não é apenas um problema dos grandes países. É um desafio comum. E reorientar a narrativa: da culpa para a ação; da crítica fácil para a transformação informada.
Porque apesar de termos esgotado a nossa quota anual, há caminhos para fazer melhor. Já há cidades portuguesas com planos de neutralidade carbónica, empresas que repensam cadeias logísticas, jovens que plantam mais do que hashtags. E esse movimento importa mais do que os julgamentos populistas.
No fundo, o planeta não nos pede sacrifícios impossíveis. Pede equilíbrio. Respeito. E alguma humildade em reconhecer que “viver bem” não tem de ser sinónimo de viver muito acima do que a Terra pode oferecer.
Que bom seria ouvir hoje os diferentes candidatos às eleições legislativas a falar sobre este tema, que trata da nossa sobrevivência.
Professor catedrático