Hidrogénio Verde: a molécula da transição climática!
E se começássemos com um pouco de química? H2 é o símbolo químico da molécula do Hidrogénio, o elemento químico mais abundante do universo. Onde o encontramos? Na água (H2O) e na matéria orgânica. No entanto, o Hidrogénio não existe de forma isolada. Para o podermos utilizar, é necessário separá-lo dos outros elementos, recorrendo à água e eletricidade procedentes de fontes renováveis. A corrente elétrica de fonte renovável vai separar o Hidrogénio (H2) do Oxigénio (O) que existe na água (H2O), sem emitir Dióxido de Carbono, e dando origem ao já famoso Hidrogénio Verde.
Em Portugal, as águas residuais urbanas, devidamente tratadas ao nível terciário, foram classificadas como a matéria-prima por excelência para a produção de H2 por eletrólise. O seu desempenho qualitativo e os custos Capex e Opex, de acordo com o estudo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG)*, fazem da Água para Reutilização (ApR), a primeira escolha para a produção de H2, principalmente em áreas de alta densidade urbana. Não esqueçamos que o país tem milhões de metros cúbicos de água disponível nas Fábricas de Água - as ETAR 2.0.
"Na próxima década, o Hidrogénio renovável vai desempenhar um papel fundamental no quadro energético mundial... e esta é uma verdade tão transparente como a "H2O"."
A mobilidade, principalmente a pesada, cujo processo de descarbonização é mais difícil, constitui o campo de aplicação por excelência do Hidrogénio Verde. Neste universo, existem já projetos europeus com alguma maturidade (Hycarus e Cryoplane) e que preveem a introdução do Hidrogénio em aviões de passageiros e navios de carga, bem como na mobilidade individual. De facto, o Hidrogénio pode vir a resolver alguns dos constrangimentos da mobilidade elétrica, nomeadamente limitações de autonomia e de tempo de abastecimento, proporcionando condições vantajosas muito semelhantes à dos combustíveis fósseis.
O Hidrogénio Verde constitui ainda a melhor forma de descarbonizar progressivamente as redes de gás natural, que ainda deverão ser utilizadas durante alguns anos. A molécula, que promete revolucionar a transição climática, vai permitir rentabilizar a infraestrutura já instalada de transporte do gás, através da utilização de outros gases renováveis como o biometano, produzido através das lamas de depuração das Fábricas de Água (as ETAR 2.0) e dos resíduos, principalmente resíduos orgânicos. As pilhas domésticas de combustível, por seu lado, permitem solucionar os problemas de fornecimento de energia elétrica no mundo rural, sem obrigar à construção de redes de distribuição de vários quilómetros, com impacto significativo na paisagem e no ambiente.
Na próxima década, o Hidrogénio renovável vai desempenhar um papel fundamental no quadro energético mundial... e esta é uma verdade tão transparente como a "H2O". Portugal, com todo o investimento já realizado e previsto pelo nosso governo para esta legislatura, tem todas as condições para liderar a mudança.
*Estudo LNEG (Laboratório Nacional de Energia e Geologia) - Água para a produção de hidrogénio verde via eletrólise em Portugal, Junho 2021.
Vice-Presidente Executivo da Águas do Tejo Atlântico e membro do Fórum Energia e Clima