Guimarães: nove séculos de inspiração
Todos falam de reinvenção, mas poucos a praticam. Até porque não é para todos. Há dias, a Europa apontou de novo os holofotes para um caso sério, por sinal português: Guimarães foi escolhida para Capital Verde Europeia 2026. A longa caminhada iniciada em 2014 deu os seus frutos, com a cidade-berço a deixar para trás algumas das mais emblemáticas cidades europeias.
Esta capacidade de iluminar o caminho, que se manifesta há quase nove séculos, é ainda hoje para mim um mistério. Costumo dizer que foi forjada lá atrás, na adversidade da Batalha de São Mamede, em 1128, que abriu caminho para a fundação de Portugal. Desde então, Guimarães tem sido um caso emblemático de interceção da tradição, da ambição e do progresso, reinventando-se em permanência, sem contudo perder o lastro da história. Há quem lhe chame sustentabilidade.
Um sobrevoo dos últimos 40 anos revela um percurso ímpar: o centro histórico património da Humanidade; a ciência, inovação e ensino superior com a presença da Universidade do Minho e do AvePark; a presença continuada no grupo restrito dos municípios mais exportadores do país; a Capital Europeia da Cultura em 2012; a Capital Europeia do Desporto em 2013; a seleção para as “100 cidades europeias inteligentes e com impacto neutro”; e, agora, a Capital Verde Europeia.
Para se entender o valor deste reconhecimento mais recente, basta espreitar os critérios, que reclamam a excelência em áreas críticas do conceito de sustentabilidade ambiental e climática. Em concreto, Guimarães destacou-se das demais nas áreas de avaliação consideradas, como a qualidade do ar e da água, a proteção da biodiversidade e das áreas verdes, a recolha e tratamento dos resíduos, a economia circular, a gestão do ruído, a mitigação e a adaptação às alterações climáticas. Esta performance implicou investimento estratégico, como foi o caso do novo sistema de transportes urbanos, onde quase metade dos quilómetros percorridos se fazem já em veículos elétricos, sem emissões de gases de efeito de estufa ou de outros poluentes.
Para alcançar um sucesso deste calibre, é necessária liderança e trabalho de equipa. Por ter estado envolvido no processo na sua fase inicial, conheço bem as pessoas que desenvolveram a candidatura, repercutindo na estrutura municipal a cultura de mudança. São um exemplo de competência e resiliência.
Quanto à liderança, recordo as palavras inspiradoras do presidente da Câmara, Domingos Bragança, quando em 2014 sonhou com este título: “O que importa é o percurso. Se fizermos bem o nosso trabalho, o reconhecimento virá, mais tarde ou mais cedo”. Assim foi, numa espécie de corolário dos três mandatos deste autarca de eleição, que no próximo ano fecha com chave de ouro um ciclo virtuoso da cidade-berço.