Guerra no Líbano
A poucos dias de passar um ano do ataque do Hamas ao Sul de Israel, Netanyahu começa outra guerra, agora a Norte.
O Governo israelita sabia que as memórias do ataque hediondo de há um ano e do falhanço dos seus serviços secretos e das forças de segurança regressariam bem fortes à mente dos israelitas por estes dias.
Por isso, nada melhor do que avançar com uma invasão do Líbano e o ataque ao Hezbollah. Projetar força, para fazer esquecer o falhanço de há um ano e os reféns ainda detidos pelo Hamas. Projetar força, para fazer também diminuir a memória das dezenas de milhares de palestinianos que morreram às mãos do exército israelita na Faixa de Gaza ao longo de um ano.
Netanyahu é um sobrevivente político. Sobrevive apesar das acusações sérias de erosão do Estado de Direito, mas também de corrupção – em andamento nos Tribunais de Israel. Sabe que um Primeiro-Ministro de guerra conquista popularidade, particularmente em Israel, cujo povo se sente sempre ameaçado.
Testemunhei isso mesmo em Telavive e Jerusalém, há pouco mais de dois anos, numa fase de relativa acalmia. Já nessa altura, Bibi preparava o regresso ao poder, sempre disposto a explorar essa sensação permanente de insegurança dos israelitas. Já nessa altura, os radicais de extrema-direita que hoje integram o seu Governo provocavam os palestinianos, na Esplanada das Mesquitas ou nos colonatos ilegais.
No Líbano, assisti às consequências da instabilidade no Médio Oriente, num país dilacerado por má governação e radicalismo islâmico (do Hezbollah). Nada nos prepara para aqueles campos de refugiados em meio urbano, pejados de palestinianos fugidos já há décadas das sucessivas incursões de Israel no seu território. Crianças deitadas no chão, de onde saía a única réstia de frescor. Medicamentos que acabavam, alimentos que não chegavam.
Agora, novamente o desespero e a morte, num país já tão dilacerado. Israel bombardeia Beirute e invade agora o Sul do país, com o objetivo declarado de fazer regressar a segurança à zona Norte da sua fronteira. Só que as décadas de conflito ensinaram-nos que a segurança de Israel nunca será alcançada através da guerra. Apenas a implementação da solução de dois Estados, como definida nos Acordos de Oslo, poderá trazer uma paz duradoura à região.
Netanyahu e os seus ministros de extrema-direita renegam esse acordo e qualquer possibilidade de os palestinianos terem o seu próprio Estado.
O recente ataque ao Líbano não resolve nada e ameaça uma escalada regional. Apesar de o Hezbollah parecer bastante enfraquecido, sabia-se que o Irão não poderia deixar de responder. E Israel deverá responder também ao Irão… A proporcionalidade e moderação da resposta de cada um é uma linha ténue que corre o risco de ser ultrapassada, seja de forma deliberada ou acidental.
O mundo está na expectativa e a diplomacia tenta pôr água na fervura. Mas os ímpetos belicistas do Governo de Israel não parecem ceder a quaisquer apelos. Bibi sobrevive e parece estar para durar. Mas a paz está cada vez mais longe…