Guerra na Terra Santa - O ataque surpresa
Israel sofreu um ataque inédito na sua História, no passado dia 7 de outubro. O grupo terrorista Hamas entrou por terra, ar e mar no seu território. Não só conseguiu passar a fronteira, como matou vilas inteiras, fez centenas de reféns, e os seus militantes percorreram livremente as ruas das cidades fronteiriças, muito bem armados. A famosa Cúpula de Ferro não conseguiu impedir a chuva de rockets vindos de Gaza. Considerado como o 11 de Setembro para Israel, a grande pergunta é como tudo isto foi possível acontecer num país que tem à frente um primeiro-ministro experiente, um general como ministro da Defesa com larga experiência de guerra com o Hamas e o Hezbollah, um ministro da Segurança Interna anteriormente condenado por terrorismo contra muçulmanos e um partido ultraortodoxo, o Shas, cujo líder apelou à morte dos muçulmanos.
Terá sido distração? Menosprezaram o que a Mossad e as secretas egípcias avisaram, convencidos que iriam resolver facilmente o assunto? Apesar de ser Sabbath, dia de descanso semanal para os judeus, e de se estar a celebrar a Festa dos Tabernáculos, não estariam a rezar com certeza! Esta coligação ultraortodoxa, ultra nacionalista de Extrema-Direita mostrou que não reza em serviço, quando fizeram o ataque à mesquita de Al-Aqsa na semana da Páscoa judaica, que este ano também coincidiu com o Ramadão! A Netanyahu dava-lhe jeito uma pequena guerra com o Hamas para sair vitorioso e calar a Oposição interna, e a internacional, cansada da reforma judicial que dá ao Governo plenos poderes no Parlamento, e para distrair as atenções dos colonatos erguidos incansavelmente na Cisjordânia. Saiu-lhe o tiro pela culatra, e arrisca-se a ser julgado quando tudo isto acabar, e os israelitas não lhe vão perdoar tamanha incúria e prepotência.
Para o Hamas a Operação Al-Aqsa está a ter resultados muito para além do esperado. Não só conseguiu afirmar-se perante todas as outras brigadas terroristas de Gaza e da Cisjordânia, como é o líder da causa palestiniana. Estranhou-se que durante nove meses não se tenha insurgido, ou feito pequenos ataques em Israel, como retaliação do avanço dos colonatos ou da alteração do Estatuto dos Lugares Sagrados que este Governo israelita tentou implementar, ao reclamar que os judeus também teriam direito a rezar na esplanada das mesquitas, que circunda a mesquita de Al-Aqsa, a terceira mais sagrada para o Islão. Imagine-se o contrário, e os muçulmanos quererem rezar junto ao muro das lamentações?
Finalmente, os civis, as grandes vítimas desta guerra.
Do lado de Israel, as centenas que foram barbaramente mortas às mãos dos militantes do Hamas nas vilas fronteiriças com Gaza, e os que estavam no festival de música e foram levados como reféns do grupo terrorista. Foram duplamente vítimas, não só do Hamas, mas também do seu Governo, que não soube defender as fronteiras do seu país, nem proteger os seus cidadãos. Aliás, os israelitas desde janeiro que saem à rua contestando as políticas desta coligação de Netanyahu.
Do lado de Gaza, os palestinianos prisioneiros do Hamas na sua própria terra. A organização da Irmandade Muçulmana, inspirada na ideologia violenta de Sayed Qutub, para além de manter um regime opressivo, usa os palestinianos como escudos humanos, obrigando-os a guardarem as armas nas garagens das suas casas. Com a iminente entrada das forças de Israel em território de Gaza, estão a impedir que os palestinianos saiam de suas casas, porque são importantes peões na guerrilha urbana que se avizinha. Os palestinianos também vítimas de Netanyahu que os mantém encurralados, lhes cortou o acesso a bens básicos de sobrevivência e os bombardeia incansavelmente.
Esperam-se tempos muito difíceis.
Professora do ISCTE-IUL