Governar ou protestar
Ao longo da sua história, o Partido Socialista confrontou-se com vários momentos em que a sua autonomia estratégica e programática foi posta em causa.
Se é verdade que todos sempre se lembram do Congresso da Aula Magna e da intervenção que nele tiveram Manuel Alegre e Mário Soares, não o é menos que outros momentos de tentativa de “colonização” e diminuição do PS se seguiram.
Foi assim, em 1975, aquando da questão da unicidade sindical versus a liberdade sindical. E foi, também, quando, no início da década de 80 do século passado, o PS viveu um forte conflito interno que, a propósito da recandidatura do General Ramalho Eanes, opôs Mário Soares e o grupo que viria a ficar conhecido como ex-secretariado.
Este grupo teria uma visão mais frentista e mais à esquerda e apresentar-se-ia com a Moção “Um partido forte - um projeto claro”. Mário Soares apresentou-se com uma visão mais centrista e com a moção “Novo Rumo para o PS”.
Mais recentemente alguns terão tomado “a nuvem por Juno” e considerado que um governo formado com o apoio da esquerda parlamentar era um primeiro passo para um frentismo de esquerda. Frentismo que o PS e o seu eleitorado sempre rejeitaram.
Pior, nas últimas eleições, deixou-se passar para o eleitorado essa ideia de frentismo de esquerda e, pior, uma frente de esquerda que seria ideologicamente tributária de partidos de protesto.
Aqui chegados, parece que o Partido Socialista parece querer retomar o seu caminho de partido popular, interclassista, com capacidade para, governando, servir os portugueses.
Nesta discussão que hoje percorre a Europa e que divide a esquerda entre uma esquerda de protesto e uma esquerda de governo, o PS posiciona-se claramente como um partido de governo, em nome dos valores da esquerda, com um posicionamento central e popular, enraizado na sociedade portuguesa, posicionado ao serviço dos portugueses e das suas causas, servindo-os em nome de uma melhor qualidade de vida , de uma maior igualdade e da mobilização dos melhores.
Há que ter consciência que a esquerda é “vária e diversa” e que dessa diversidade vem, em grande medida, a sua capacidade de transformação social. E, nessa diversidade, todos aqueles que se identificam com o progresso social e civilizacional são bem-vindos e são necessários para reconstruir a grande área política da esquerda democrática. Mas, se todos são precisos, não são todos igualmente responsáveis pela situação atual.
A (re)afirmação e a (re)credibilização do PS na sociedade portuguesa passará, para ter sucesso, pela assunção da defesa dos mais pobres, pela mobilização dos mais qualificados , por uma visão para a totalidade do nosso território, por novos protagonistas, aglutinando e liderando todos aqueles que tendo uma visão progressista da sociedade, se reveem numa esquerda que governa em nome da democracia, do progresso, do equilíbrio entre o capital e o trabalho, da igualdade e do combate à pobreza e à exclusão.
Uma esquerda que apresente soluções para os problemas dos portugueses.
É este o desafio que o novo secretário-geral do PS tem de ganhar, enfrentando uma sociedade radicalizada e desconstruindo uma certa ideia de transitoriedade que alguns pretendem inculcar na opinião pública.
Advogado e gestor