Gouveia e Melo. Querem sol na eira e chuva no nabal?

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É natural que haja uma preocupação socialista relativa à candidatura de Gouveia e Melo a Presidente da República.

Daniel Adrião, que dentro do PS sempre se pautou pelo domínio dos princípios e da moral, e por isso lidera uma ala minoritária, desafiou  Pedro Nuno Santos e o PS a dar um apoio formal ao almirante Gouveia e Melo.

Mas, afinal, porque que razão Gouveia e Melo conquista, atualmente, a simpatia de tantos portugueses? Como se explica que um militar, que preencheu a sua vida em dedicação à marinha, discreto, sem grandes manifestações públicas, ocupa o primeiro lugar nas sondagens na linha de partida para a eleições presidenciais. Os caros leitores lembram-se da vacinação ao Covid em 2019? Lembram-se do nome do Francisco Ramos? Militante socialista. Assumiu a responsabilidade logística de montar a máquina da toma de vacinas pela população portuguesa. Era coordenador.

O caos no processo de vacinação tornou-se uma infeliz realidade. Políticos, autarcas, amigos da classe política, eram privilegiados na toma das vacinas, numa violação das  regras estabelecidas. Estava instalada uma desenfreada corrida às vacinas. O governo de então foi incapaz de criar um sistema logístico que conferisse à população o direito a receber a sua vacina no período a que a correspondia a sua idade e o seu grau de risco.

O governo tinha comprado as vacinas mas não conseguia montar um sistema de distribuição e toma das mesmas pelos portugueses.

António Costa, que então liderava o Executivo, foi buscar um militar para resolver um problema logístico que um representante da classe política, era incapaz de solucionar.

E foi, deste modo, que Gouveia e Melo surgiu no panorama nacional. Rodeou-se de uma boa equipa de protagonistas de confiança. Foi rigoroso na aplicação das regras que tinham sido criadas para a distribuição de vacinas. Não consta que tenha dado a primazia na toma das mesmas a militares amigos, a familiares, a eventuais políticos do seu círculo de amizade.

Gouveia e Melo fez na perfeição o trabalho que devia ter sido feito pelo governo. E a população portuguesa foi vacinada, sem atropelos, sem confusões. Portugal e os portugueses ficaram a dever-lhe esse enorme ato que marcou, positivamente, o todo nacional.

Um militar tinha salvo a situação. Não consta que, na altura, tenha havido do lado do PS ou da classe política algum reparo pelo facto de uma atividade, iminentemente, política da área da saúde, ter sido entregue a um militar.

Não houve, então, registo de reparos pela excessiva autoridade que é apanágio dos militares. Não foi questionada a ausência de pensamento politico de Gouveia e Melo sobre questões de saúde. Não consta que a República tenha ficado incomodada pelo simples facto de um militar ter sido chamado para uma tarefa que era um desígnio nacional.

Gouveia e Melo desempenhou as funções que lhe tinham sido pedidas com profissionalismo e isenção. Não recebeu prebendas por esse facto. Não há notícia de que lhe tenha sido dado em troca emprego para nenhum familiar ou amigo. Não partiu para a estrangeiro num exílio dourado de uma qualquer função numa instituição internacional com vencimento de milhares de euros. Ficou por cá. Regressou ao seu posto na Marinha. Voltou a fazer o que fazia, anteriormente, sem alaridos. Continuou discreto, na exercício das suas funções militares. Em resumo, foi decente.

Talvez tudo isto explique a razão pela qual Gouveia e Melo esteja em primeiro lugar nas sondagens para as eleições presidenciais. Os portugueses não querem saber da condição militar de Gouveia e Melo.

Estão-lhe gratos pelo trabalho perfeito que fez num assunto de extrema gravidade e vital para o bem estar e saúde da população portuguesa. Conseguiu e teve sucesso no que falhou o governo da época.

Gouveia e Melo foi a escolha certa, ainda que essa escolha tenha surgido fora do círculo da nomenclatura política. Se serviu, então, para uma tarefa nacional da maior importância porque razão não pode ser um bom candidato a Presidente da República. Como tudo na vida, também, a propósito dele, não se pode querer sol na eira e chuva no nabal.  

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