Gostemos ou não, as alterações climáticas existem

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Depois de dramas e noitadas, zangas e acusações, surpresas e cedências, a COP29 encerrou com um acordo que não satisfaz ninguém. Os países em desenvolvimento, nomeadamente os chamados “pequenos países insulares em desenvolvimento” lembram que o seu contributo para a crise climática é marginal, mas que são quem mais sofre o impacto da subida do nível dos oceanos e da destruição dos ecossistemas marinhos.

Outros países, que foram classificados como “países em desenvolvimento” em 1992 - como a China, a Índia ou os países do Golfo - e portanto, têm obrigações de mitigação de emissão de poluição e de contribuírem para a diminuição das consequências das alterações climáticas semelhantes à Guiné Bissau, não parecem interessados em reconhecer que muito mudou nos últimos 30 anos e em assumirem um papel mais central no esforço coletivo para resolver a crise que todo o planeta atravessa.

Finalmente, nos países ditos desenvolvidos, e que mais beneficiaram do crescimento económico e do desenvolvimento social que teve início há 150 anos com a revolução industrial, há cada vez mais vozes e vozes mais importantes que questionam não só os impactos e custos da transição, mas questionam igualmente a ciência que nos diz, sem sombras para dúvidas, que o clima está a mudar, que a atividade humana é a principal culpada e que, se nada fizermos, as consequências serão catastróficas.

Quando o mundo adotou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2015, já se tinham passado 27 anos sobre a publicação de um relatório coordenado pela então primeira-ministra da Noruega onde se falou, pela primeira vez, sobre a necessidade de termos um modelo de desenvolvimento que fosse igualmente sustentável. E tinham-se passado 26 anos sobre a criação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas que traduziu para uma linguagem que todos poderíamos perceber o que a ciência nos dizia.

Mas, ao invés de ouvirmos a ciência, embarcámos numa longa, inútil e, em alguns casos, vergonhosa discussão sobre se a ciência era, de facto, ciência ou se tudo não passaria de uma estratégia conspirativa que “eles” (sempre os terríveis e sombrios “eles” que ninguém sabe dizer quem são…) inventaram para nos controlar.

Tivéssemos nós agido no final da década de 1980, quando a ciência nos disse que estávamos a contribuir decisivamente para as catástrofes ambientais que têm atingido todas as latitudes do planeta e teríamos tido tempo para fazer o que tem de ser feito de forma ponderada e bem gerida.

Não ouvimos a ciência e agora temos de mudar, sem tempo para gerir os enormes impactos e os tremendos custos, e sabendo que desta vez não podemos deixar uma parcela significativa da Humanidade à margem do crescimento económico e do desenvolvimento social.

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