Geórgia. Moscovo não desiste do controlo do Cáucaso
Recentemente a Geórgia, antiga república soviética, foi notícia devido à tentativa de aprovação da chamada lei dos "agentes estrangeiros". A lei surgiu por iniciativa de Irakli Garibshvili, primeiro-ministro daquele país. Caso tivesse sido aprovada a nova legislação determinaria que todas as organizações que incluíssem na sua composição um financiamento de fontes de capital estrangeiro em pelo menos 20 por cento teriam, obrigatoriamente, de se registar e seriam consideradas instituições estrangeiras.
A lei é idêntica à que rege o regime de Putin e tem como consequência a censura de órgãos de comunicação social e a fragilização de organizações não-governamentais. Ou seja, controlo por parte do Estado dos Media e de ONG"s tornando a sociedade mais fechada, mais censurada e menos transparente.
O projeto de lei suscitou de imediato manifestações e protestos por parte da população que viu nela um instrumento de repressão e controlo indireto por Moscovo. O resultado saldou-se em confrontos violentos com a polícia e a detenção de 130 georgianos.
Desde a independência da Geórgia em 1999, quando do colapso soviético, que a Rússia anseia recuperar a influência que tinha no Cáucaso no tempo da URSS.
Todavia esta pretensão de Moscovo é, fortemente, contrariada pela vontade da população georgiana. Sondagens dão conta de que 85 por cento dos georgianos querem uma aproximação à União Europeia e defendem um sistema democrático e pluralista para o seu país. Ressalvadas as diferenças, uma situação com pontos comuns com a Ucrânia.
Perante os protestos populares a presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, vetou de imediato a controversa lei, e o parlamento georgiano chumbou-a na segunda votação. Tudo isto graças às movimentações populares. Protestos que levaram os partidos, tanto os governamentais como da oposição, a distanciarem-se da polémica lei.
Apesar destes desenvolvimentos a Geórgia continua sob uma forte ameaça de Moscovo em relação ao seu desejo de se tornar uma democracia de tipo ocidental.
O protagonista número um da presença russa nesta república do Cáucaso é o ex-primeiro-ministro, Ivanishvili, político que em 2012 fundou o partido pró russo, "Sonho Georgiano", e que hoje tem uma significativa influência na sociedade georgiana. Contudo, Ivanishvili, além da sua vertente política, é também um empresário cuja maioria das empresas estão sediadas na Rússia. Portanto um homem muito próximo do Kremlin a considerado um aríete de Vladimir Putin.
A interferência de Moscovo na Geórgia já vem de longe e confere a ambição do Kremlin em recuperar a influência política que tinha no tempo da URSS. A história da presença russa passa também por duas repúblicas nacionalistas inseridas dentro do território georgiano, a Abecásia e a Ossétia do Sul. Ao longo das últimas décadas aquelas repúblicas experienciaram diferentes autonomias e serviram de pretexto para que as tropas russas invadissem território da Geórgia. Por isso, ainda hoje, elas estão fora de controlo georgiano.
O procedimento de Moscovo na Geórgia tem algumas semelhanças com a Ucrânia. Em ambos os casos Moscovo tentou controlar áreas inseridas nos territórios destes Estados, destruindo a sua territorialidade, jogando com as diferenças linguísticas, étnicas, sociológicas.
A Abecásia viu reconhecida a sua independência em 2008 apenas pela Rússia, Venezuela, Nicarágua e Síria.
No mesmo ano a Ossétia do Sul viu, igualmente, conferida a sua independência da Geórgia, mas apenas pela Rússia e pela França.
Para além da declarada independência da Abecásia e da Ossétia do Sul, as Nações Unidas e o Ocidente sempre olharam a Geórgia como um país. Contudo para Moscovo retalhar a Geórgia e ensaiar tentativas de impor a censura continua a ser vital para um efetivo controlo do Cáucaso.
Jornalista