Fragilidade e multimorbilidade

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A fragilidade e a multimorbilidade são biomarcadores clínicos importantes para o estudo do envelhecimento humano. Demonstrou-se que a fragilidade e a multimorbilidade estão ambas associadas ao risco de incapacidade, de internamento e de mortalidade. Entre fragilidade e multimorbilidade existe a probabilidade de uma relação causal bidirecional: a fragilidade pode predispor ao aparecimento de multimorbilidade, mas também resultar da existência de múltiplas doenças crónicas. Embora conceitos separados, é aparente que existe uma grande sobreposição entre fragilidade e multimorbilidade

Trata-se de um problema de saúde relevante não só para os profissionais que cuidam dos idosos, mas também para os idosos, suas famílias e cuidadores.
A complexidade da multimorbilidade torna-se importante com a sobreposição de distúrbios de saúde física e mental, fragilidade e polifarmácia/iatrogenia, podendo levar, em alguns casos, a perda da funcionalidade, perda da autonomia e dependência.

A relação do doente crónico com cronicidade, multimorbilidade, fragilidade e dependência constitui por si só um círculo vicioso interdependente e dinâmico, com outcomes indesejáveis, como aumento da despesa, diminuição da produtividade, aumento do consumo dos serviços de saúde, perda de autonomia, aumento da dependência e de morte antecipada. Mas este conceito dinâmico é interativo e potencialmente reversível, quando nele atuamos preventivamente, com terapêutica e com atividades sociais, exercício físico, alimentação adequada e outras ações como a eliminação da pobreza.

As questões relacionadas com este círculo vicioso que se autoalimenta têm sido uma preocupação crescente dos profissionais de saúde, dos investigadores e de muitos governos, mais preocupados com a despesa do que com o sofrimento dos doentes crónicos e suas condições de vida.

Em muitos países da Europa este problema tem sido encarado de frente, com o objetivo de o minimizar e resolver. Ciente desta preocupação transeuropeia, quando ainda estava ao serviço da Casa Civil, solicitei a ajuda de algumas associações de doentes corporizadas na Federação Nacional de Doenças Crónicas, para um desenho inicial que fosse um documento robusto que identificasse a visão dos doentes crónicos para a necessidade da criação de um estatuto do doente crónico em Portugal.

Esta informação é para o meu conceito académico, gestionário e social do doente crónico uma ferramenta importante porque deixa transparecer as necessidades e expectativas dos problemas sentidos pelos doentes com cronicidade. A teoria que de fende a construção de baixo para cima de um projeto para a população só pode ser coroado de êxito.

Médico e Investigador, CINTESIS

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