Finalmente, um elogio a Carlos Moedas
Junho é o mês dos Santos Populares, das Marchas, das sardinhas assadas e dos manjericos, é a altura do ano em que a tradição regressa a Lisboa. Infelizmente, este ano, junho vai encontrar uma cidade mais suja e negligenciada.
Com jardins completamente esquecidos, como o da Praça de Espanha, na confluência de importantes centros culturais – como a Fundação Gulbenkian, o Teatro Aberto e o Teatro da Comuna. Os sete hectares que foram projetados como jardins de biodiversidade estão há quase quatro anos sem manutenção ou cuidado. O projeto nem sequer chegou a ser concluído porque Moedas desistiu da ponte pedonal que devia fazer a ligação à Gulbenkian, e só agora é que decidiu iniciar o procedimento concursal para a exploração do quiosque que, por ter estado tanto tempo fechado, já se encontra vedado e fortificado para impedir a ocupação por sem-abrigo.
Sempre que Moedas não sabe bem o que fazer, manda erguer uma vedação na esperança de estancar o problema ou de fingir que ele não existe. Lembram-se da envolvente à Igreja dos Anjos de onde mandou retirar os Sem-Abrigo na véspera das celebrações do 5 de outubro? Já não há Sem-Abrigo nessa zona verde, mas também não há lisboetas porque ela continua vedada. Estão a par do aumento do consumo de drogas e do número de toxicodependentes na Avenida de Ceuta? Zona vedada.
O desmazelo chega também ao pavimento. Nas ruas e avenidas de Lisboa há autênticas crateras que esperam por solução; nos passeios aumentam os buracos e as falhas na calçada que armadilham os transeuntes. Isto quando os passeios ainda existem e não servem apenas para estacionamento selvagem. Por toda a cidade há remendos nas redes de esgotos, de telecomunicações, nas condutas de água, feridas abertas no asfalto que a fiscalização camarária devia ter evitado.
O monumento a Maria José Nogueira Pinto na avenida Ribeira das Naus, ali tão perto da Câmara e do olhar atento do Presidente? Vandalizado e convertido numa casa de banho. O Torreão Poente na Praça do Comércio continua a afundar-se enquanto espera pela requalificação.
O Plano Geral de Drenagem de Lisboa, ainda sem contabilizar 2024 e 2025, já está com seis meses de atraso. Por ser evidente que uma obra desta envergadura numa cidade antiga contaria sempre com imprevistos, o que aqui se critica não é o atraso, mas o facto de se saber que este atraso é muito superior ao que Moedas quer que se saiba – pelo menos antes das eleições.
A pressão turística, o excesso de lixo e os problemas que continuam na sua recolha, o congestionamento permanente do trânsito… Como se deixou a cidade chegar a este estado? Como permitimos que os lisboetas estejam permanentemente à beira de um ataque de nervos?
Melhorar Lisboa implica a coragem para tomar decisões que não sejam populares e Moedas nunca fará nada que não possa instagramar. Por isso é bem mais fácil importar um festival com o Robert de Niro do que assumir o risco de reconstruir uma torre quinhentista. Aliás, o maior risco que Carlos Moedas correu neste seu mandato, e pelo qual lhe deixo o primeiro elogio mais de 1.300 dias depois de tomar posse, foi mudar o chefe de gabinete. Ao trocar o seu irascível braço direito pela antiga chefe de gabinete de António Costa na Câmara, Moedas dá o sinal de que percebeu, finalmente, que para fazer algo na cidade tem de mudar de equipa. Vai tarde, mas pode ser que até às eleições ainda consiga corrigir alguns dos erros que se amontoaram nos últimos anos na capital.
Presidente da Junta de Freguesia de Alcântara