“Filho, vamos falar sobre as dificuldades económicas”

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As dificuldades financeiras batem à porta de muitas famílias, mesmo daquelas onde nunca antes tinham batido. O desemprego, os salários em atraso, gastos imprevistos ou as dificuldades associadas ao aumento do custo de vida levam a que o dinheiro escasseie e tenha, por isso, de ser muito bem gerido. E quando as famílias se deparam com este tipo de problema, é necessário explicá-lo a todos, mesmo aos mais novos, que podem encontrar aqui uma ajuda na preparação para a vida adulta.

O tema da gestão do dinheiro não deve ser abordado com os filhos apenas numa situação de crise, de modo a que aprendam que devem sempre manter alguns cuidados, mesmo quando não experienciam quaisquer dificuldades. Se só agora decidiu abordar o tema com os mais novos, saiba que é importante fazê-lo de uma forma tranquila, otimista e sem transmitir a ideia de que a criança pode ser, de alguma forma, responsável pela situação de maior vulnerabilidade familiar.

Naturalmente, o tipo e alcance de uma explicação sobre este tema depende, sobretudo, da idade e nível de desenvolvimento. As crianças mais novas têm um funcionamento cognitivo mais concreto e experienciam maior dificuldade em pensar de forma abstrata e em projetar-se no futuro. Logo, estão mais focadas no aqui e agora, preocupadas com questões muito concretas do seu dia a dia. Carecem, portanto, de explicações muito simples que as ajudem a entender, por exemplo, que uma ida ao cinema pode ser substituída por uma sessão de cinema em casa, ou que o brinquedo que tanto desejam terá mesmo de aguardar pela chegada do Pai Natal.

Os mais novos costumam também pedir tudo e mais alguma coisa, pelo que aqui a receita para aos pais é muito simples: dizer “não” com firmeza e sem ceder a birras ou amuos.
É também importante sensibilizar as crianças, desde cedo, para a necessidade de gastarem o dinheiro de uma forma correta e responsável, colocando-as perante a decisão de terem de optar: “O dinheiro apenas dá para uma das duas coisas que queres. Qual escolhes?” Desta forma, a criança terá de fazer uma escolha e tomar uma decisão, competências que serão certamente muito úteis ao longo da sua vida.

Já os adolescentes, com outra capacidade de entendimento, podem ser ajudados a compreender a real situação familiar. Sem alarmismos e de uma forma honesta, devem ser informados dos motivos das dificuldades que a família atravessa e ser envolvidos na definição de estratégias de mudança e gestão económica, com a clara definição de prioridades. Podem ver a sua mesada reduzida e, também eles, terão de aprender a gerir esse dinheiro de uma forma mais racional. Devem ainda ser ajudados a pensar sobre as vantagens da poupança - saber esperar e adiar o prazer imediato pode ser muito recompensador no futuro.

A saúde financeira da família não deve ser um tema vedado aos mais novos. Quando bem abordado, ajudamos as crianças a saber valorizar o dinheiro e as formas de o obter, a definir prioridades e a fazer escolhas, a poupar e a saber adiar a gratificação imediata.


Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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