Fazer a diferença no combate ao cancro do reto
Cerca de 10 mil novos casos de cancro colorretal são diagnosticados por ano em Portugal. E, os novos casos diagnosticados têm vindo a aumentar em pessoas com idades inferiores a 50 anos. O cancro do reto representa uma parcela significativa dos tumores malignos que afetam o aparelho gastrointestinal, com um impacto considerável na saúde pública em termos de incidência e mortalidade. A cirurgia tem sido, e continua a ser, um pilar fundamental no tratamento curativo desta doença.
Entre os fatores de risco estão os que não conseguimos modificar, como: a idade avançada, antecedentes familiares, doença inflamatória intestinal e síndromes genéticos hereditários. Mas também temos fatores de risco modificáveis: a dieta pobre em fibras e rica em gordura, o sedentarismo, a obesidade, o tabagismo e o consumo excessivo de álcool.
Assim devemos promover estratégias de prevenção que passam por destacar a importância de uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras – e pobre em carnes vermelhas e alimentos processados. Igualmente, é necessário promover a prática regular de exercício físico, alertar para os riscos da obesidade e reforçar os malefícios do tabagismo e do álcool.
Os sintomas surgem tardiamente e, por isso, é fundamental a sensibilização de todos para a doença, mas também para a sua prevenção. A realização de exames de diagnóstico é fundamental na prevenção desta patologia oncológica porque procura identificar precocemente lesões ou o cancro em fases iniciais, quando a probabilidade de cura é seguramente maior.
O método de rastreio mais promovido em Portugal é a pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes (PSOF). É simples e envolve a colheita de fezes para avaliação e, se o resultado for negativo, deverá ser repetido de 2 em 2 anos. No entanto, a colonoscopia total sob anestesia é o exame de eleição para o diagnóstico precoce e rigoroso. Quando aliada a novas ferramentas de Inteligência Artificial permite elevar a sensibilidade do exame e aumentar os diagnósticos de pequenos pólipos que se não fossem removidos poderiam originar novos tumores.
O tratamento do cancro do reto é complexo e exige equipas multidisciplinares que incluem oncologistas, cirurgiões colorretais, gastroenterologistas, imagiologistas, patologistas, nuclearistas, radioterapeutas, nutricionistas e estoma-terapeutas, entre outras áreas do saber médico, que trabalham em conjunto para definir a melhor estratégia terapêutica para cada doente. Só esta abordagem integrada garante a otimização dos resultados oncológicos e a qualidade de vida das pessoas. Este é o trabalho que realizamos no Centro de Referência para o Tratamento do Cancro do Reto dos hospitais CUF em Lisboa, que acaba de ser de novo certificado pelo Ministério da Saúde.
O panorama do tratamento tem crescido para além das modalidades tradicionais como a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia, com a emergência da imunoterapia, da estratégia "watch and wait", da cirurgia robótica e da inteligência artificial. As mais valias destas inovações são incontornáveis: a cirurgia robótica oferece maior precisão e destreza aos cirurgiões, especialmente em áreas complexas como a pélvis, enquanto a inteligência artificial tem o potencial de revolucionar o diagnóstico, o planeamento do tratamento e a previsão de resultados.
Os avanços nas plataformas e nos instrumentos robóticos incluem o desenvolvimento da cirurgia robótica de porta única para minimizar as incisões, a integração de inteligência artificial e a realidade aumentada para maior precisão, assim como melhorias nos sistemas de feedback háptico - ou seja, a percepção tátil ou de força nos movimentos do cirurgião.
O foco primordial da intervenção cirúrgica era a erradicação completa do tumor, visando a sobrevivência do doente. No entanto, ao longo do tempo, o paradigma cirúrgico evoluiu significativamente: a crescente compreensão da biologia do cancro do reto, juntamente com os avanços tecnológicos e a maior valorização das necessidades de cada doente, levaram a uma abordagem mais abrangente. Atualmente, o objetivo não é apenas tratar eficazmente a doença, mas também garantir que os dentes desfrutem de uma elevada qualidade de vida após a intervenção cirúrgica. A cirurgia minimamente invasiva, incluindo a laparoscopia e a robótica, representa um avanço significativo no tratamento do cancro do reto, com potencial para melhorar a qualidade de vida pós-operatória dos doentes.
É certo que a cirurgia robótica oferece vários benefícios potenciais para o tratamento do cancro do reto: maior precisão e segurança, melhores resultados em situações desafiadoras, recuperação mais rápida e menos complicações. No entanto, a escolha entre as técnicas cirúrgicas dependerá da avaliação médica e das características específicas de cada caso, bem como da tecnologia disponível e da experiência da equipa cirúrgica.
A avaliação dos resultados a longo prazo e da qualidade de vida é fundamental para compreender o impacto das diferentes opções de terapia no tratamento do cancro do reto. Vários estudos têm investigado estes aspetos, utilizando questionários padronizados para avaliar a qualidade de vida global e específica para a função intestinal e a continência anal.
Uma das componentes que valorizamos é a disponibilidade da reabilitação pós-operatória, visando melhorar a recuperação e a qualidade de vida dos doentes após a cirurgia. Isto pode incluir fisioterapia para melhorar a função intestinal e a continência, suporte nutricional para garantir uma adequada ingestão de nutrientes durante o período de recuperação e acompanhamento psicológico para ajudar os doentes a lidar com os desafios emocionais e as ansiedades associadas ao diagnóstico e tratamento do cancro.
Recomenda-se que as pessoas diagnosticadas com cancro do reto em Portugal discutam proativamente todas as opções de tratamento disponíveis, incluindo a cirurgia robótica, com os seus cirurgiões colorretais e oncologistas.
Em suma, o tratamento está a passar por uma era de rápida inovação tecnológica onde o investimento contínuo em investigação e desenvolvimento, em conjunto com colaborações multidisciplinares, podem garantir que abordagens como a imunoterapia, a cirurgia robótica e a inteligência artificial sejam aplicadas de forma eficaz em Portugal, tratando e melhorando a qualidade de vida dos doentes.
Cirurgião Geral, coordenador da Unidade de Cancro Colorretal e do Centro de Referência de Cancro do Reto dos hospitais da CUF em Lisboa