Farol de estabilidade
Portugal foi a votos pela terceira vez em três anos, e o que aí vem são tudo menos favas contadas, para alguns que protagonizaram a crise política e provocaram eleições. O novo Executivo que toma posse, é praticamente idêntico ao anterior, quase só com a novidade de ficar a pasta da Economia diluída na coesão territorial. Um mau sinal, pela dimensão e importância da Economia, a que lá irei, mas também pelo enorme reforço de competências no único ministro que não conseguiu a sua eleição, no interior de Portugal, que o Chega venceu.
É que o cenário é marcado por incertezas, instabilidades e lideranças voláteis, com a economia nacional a exigir redobradas atenções e precauções. O nosso Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano em 2025, caiu 0,5% face aos últimos três meses de 2024, no maior recuo em cadeia desde o primeiro trimestre de 2021, em plena crise pandémica. Em recente atualização das projeções económicas, divulgadas pela OCDE, já se antevê, a economia portuguesa a desacelerar e as contas publicas a derrapar, acabando os excedentes orçamentais e a possibilidade real de se entrar em défice público, já em 2026.
Com um novo Governo minoritário, sem ministro da Economia (ou diluída na pasta do PRR), a realidade é mesmo que se inicia este novo ciclo político em abrandamento económico, com reflexos muito negativos no país real. A economia nacional está a perder, pois, dinamismo e, pior, muito provavelmente não crescerá mais do que a média da União Europeia. O que significa continuar a perder posições face a países que há anos se encontram atrás de nós.
Portugal vive uma situação preocupante. A carga fiscal é cada vez mais elevada, atingindo 35,7% do PIB, enquanto a dívida pública continua a crescer há cinco meses consecutivos, já ultrapassando os 97% do PIB. Apesar deste esforço financeiro dos contribuintes, os serviços públicos estão cada vez mais degradados, com a proteção social e de saúde a deteriorarem-se a olhos vistos.
O nosso povo sonha com um futuro melhor, mas sem criação de riqueza coletiva e uma nova visão estratégica para Portugal, dificilmente acontecerá. O Estado precisa de criar soluções para novos desafios e promover o crescimento económico, bem como vencer os desafios demográficos decorrentes da baixa natalidade e do envelhecimento ativo, para evitar o agravamento das desigualdades sociais e globalização desregulada, da pobreza e da exclusão social.
Nas eleições passadas, os Portugueses demonstraram querer “novos horizontes” à direita, e todos deveriam ter percebido o sinal. Lá estaremos nós, como um farol de estabilidade, a evitar que se fique à deriva e haja náufragos no mar salgado de Camões, feito de lágrimas de Portugal.
Economista e deputado à Assembleia da República