'Family Office'
O mundo das empresas familiares e das famílias empresárias vai-se afirmando como uma realidade que, pela sua relevância, mobiliza cada vez mais profissionais e mais conhecimento.
Se é verdade que não estamos a falar de uma nova ciência, não o é menos que este domínio se vem transformando num novo e inovador campo de estudo. Um pouco por todo o mundo a ganhar profundidade de abordagem e ainda com limitações em Portugal.
Em Portugal, e por razões históricas conhecidas, as empresas familiares têm alguma dificuldade em afirmar-se em paridade com as outras empresas. Ou porque associadas a uma gestão empresarial conservadora, ou porque, durante o Estado Novo, muitos grupos empresariais familiares prosperaram à sombra e com a protecção do regime político de então.
No entanto, basta olhar para o PSI para perceber que já não são essas empresas que lá estão. Antes, são grupos empresariais genericamente formados e desenvolvidos durante o regime democrático.
Num país que tem a escassez de capital que se verifica em Portugal, é fundamental juntar essa pouca capacidade de agregar capital com o mérito e com a capacidade de iniciativa.
Talvez por isso apreciei especialmente a oportunidade que tive recentemente de participar, em Madrid, numa acção dirigida a family offices e que reuniu algumas dezenas.
Com a participação de estudiosos, accionistas e gestores de family offices de Espanha e Portugal, mas, também, de muitos outros países, com destaque para o México, Argentina, Colômbia ou Equador.
E do que é que estamos a falar quando nos referimos a family offices? Socorro-me da noção ali transmitida por um dos mais reputados especialistas europeus na matéria, Manuel Pávon. Diz aquele professor: Um family office é um sistema orientado para preservar o capital social familiar, eliminando os conflitos de interesse da dinâmica familiar, quer entre os membros da família, quer com terceiros. Recorrendo e utilizando processos organizados e standardizados.
E estando nós a falar de preservação de capital, importa ter presente que os family offices são hoje fortíssimos agentes que operam nos mercados financeiros, nomeadamente nos mercados de capitais e de private equity.
Sendo poderosos instrumentos para preparar e construir as várias sucessões geracionais, são também um instrumento essencial de preservação e rentabilização do capital das famílias empresárias.
Repare-se que, no mundo, cerca de 40% dos family offices existentes gerem activos acima do setecentos e 50 milhões de euros e 10% deles gerem activos acima dos dez mil milhões de euros.
Esta é uma nova realidade que importa conhecer e estudar sob pena de não compreendermos integralmente o que se passa nos mercados financeiros mundiais.
Portugal teria muito a ganhar se concebesse e implementasse políticas amigáveis para atrair family offices.
Fica o desafio para que depois de 19 de Maio se possa concretizar.
Advogado e gestor
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico